Um único homem zela pelas instalações que foram construídas no século 19 para armazenar armas e munições
O trabalho de Luiz Carlos Garcia da Silva, 58 anos, é solitário. Em 2001, ele foi recrutado por uma empresa de recursos humanos terceirizada pelo Estado para ser zelador da Ilha da Pólvora, em Porto Alegre. Oito anos depois de começar a trabalhar, ele se vê tão abandonado no meio do Guaíba como o local pelo qual zela.
São 244 hectares distantes 1.082 metros do Cais do Porto da Capital e 1.321 metros da Usina do Gasômetro. A estrutura é composta por três prédios – o Paiol da Pólvora, a Casa da Guarda e a Casa da Chácara, todos datados do século 19. Transformados em escombros ao longo do tempo, foram reformados entre 1998 e 2001, ao custo de R$ 1,756 milhão – montante que chegou a R$ 2,607 milhões com as melhorias aplicadas na ilha e a compra de equipamentos. O valor foi financiado pelo Pró-Guaíba para utilização do local como ponto turístico, em eventos culturais e para acomodar um museu. O projeto não prosperou, e a ilha voltou a ficar abandonada.
Hoje, Garcia usa um pequeno barco para ir até a casa da filha Maria Rejane, 37 anos, na Ilha da Pintada, onde pode recarregar o celular. Em 2005, acabou a energia elétrica na Ilha da Pólvora. O barco que levava óleo para fazer o gerador funcionar não apareceu mais. A casa de madeira em que o zelador vivia foi abandonada depois de sofrer uma invasão de meio metro do Guaíba, e agora ele mora em um espaço na Casa da Chácara.
– Faz um ano que não aparece ninguém – lamenta.
O abandono é visível, apesar de as lâmpadas estarem inteiras – prontas para serem usadas – e de as escadas da torre da Casa da Guarda permanecem novas. O gerador parece nunca ter sido usado. A porta de vidro do que deveria ser o museu se quebrou com uma ventania em agosto de 2008, mas Garcia construiu uma engenhoca para impedir entradas sem permissão. Apesar do abandono, não se vê depredação na ilha:
Conforme a Secretaria Estadual no Meio Ambiente, não há previsão para a implementação de um projeto de revitalização da Ilha da Pólvora. O assunto entra na pauta de reuniões de técnicos, mas sem resultados práticos até agora. A secretaria garante, porém, que já há R$ 5 milhões disponíveis.
Saiba Mais:
> A Ilha da Pólvora está dentro do Parque Estadual Delta Jacuí, criado em 1976 e administrado pela Fundação Zoobotânica até 2001, quando passou para a Secretaria do Meio Ambiente por um decreto assinado pelo governador Olívio Dutra.
> O dinheiro previsto para o Pró-Guaíba, fonte que possibilitou a reforma dos prédios da Ilha da Pólvora, minguou ano a ano desde sua criação, em 1995. O total aplicado em 10 anos foi de US$ 220 milhões, 60% financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).