04/02/2014 10h18
Do lavrado a floresta amazônica
Foto: Vanessa Vieira
Mais de 700 quilômetros ligam Boa Vista a Manaus pela BR-174: a viagem dura em média oito horas
Ir à Manaus pela BR-174 é como ir à padaria: comum e essencial. A rodovia federal liga Boa Vista ao restante do Brasil. Quem viaja de avião ou ônibus na madrugada perde todos os encantos, que só quem atravessa a estrada durante o dia conhece.
Pela janela do carro, a paisagem é deslumbrante. Saindo de Boa Vista, o lavrado, as fazendas de criação de gado, as plantações. Na metade da estrada, as árvores da floresta amazônica vão tomando forma.
Quando a latitude chega a zero grau, um monumento em forma de pedra aparece marcando a divisa entre os hemisférios norte e sul: a Linha do Equador. O marco é uma homenagem a 32 homens, entre militares e civis, que morreram durante a construção da estrada Manaus-Caracaraí, entregue em 1977, durante o governo do presidente Ernesto Geisel.
Próximo dali, o início da Terra Indígena Waimiri-Atroari. São 125 quilômetros dentro da área indígena, onde é proibido fotografar e filmar as belas paisagens, como árvores que cruzam o céu e fazem da estrada um túnel e a divisa de Roraima e Amazonas, marcado pelo Rio Alalau.Quem tem mais tempo, pode conhecer os parques municipais, as cachoeiras, grutas e cavernas em Presidente Figueiredo, localizado a 107 quilômetros de Manaus.
Por muitos anos, os viajantes eram castigados pelos buracos na pista, pontes em construção, desvios pelo barro. Hoje, é possível percorrer os mais de 700 quilômetros que ligam Boa Vista a Manaus sem muitos problemas. Aliás, as marcas de freadas no asfalto mostram o excesso de confiança de alguns motoristas.
Nem a falta de gasolina é obstáculo: há postos em quase todos os municípios e vilas. Alguns com infraestrutura de dar inveja em postos de Boa Vista e Manaus, com lojas de conveniência e banheiros limpos. Um pneu furado por causa de um buraco pode ser um dos únicos empecilhos que atrasem a viagem, que leva cerca de oito horas. Ultrapassando os limites de velocidade, os mais apressadinhos chegam a percorrer o trajeto em seis horas.
A atenção na estrada deve ser redobrada, não só pelas ultrapassagens e curvas. Motociclistas sem capacete pilotando motos sem retrovisores são comuns, principalmente, entre Caracaraí e Rorainópolis. Ainda neste município, o transporte de botijas de gás é feito em picapes de passeio, sem nenhuma proteção ao motorista, passageiro ou viajantes de outros veículos.
Os animais na pista também são motivos de acidentes. De repente, uma mucura pode atravessar a rodovia ou um pássaro voar em direção ao para-brisa. Na reserva indígena, uma placa alerta os motoristas: mais de sete mil bichos foram atropelados desde 1997.
Na parte amazonense da rodovia, as ladeiras, como a famosa ladeira da Vovó, as curvas e os radares diminuem a velocidade de cruzeiro. Quem corre muito, pode não ser sortudo o suficiente para ver um belo arco-íris na imensidão do céu azul.
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