Jornal Correio: Especial Bairro Santa Mônica
Bairro nasceu em torno da Faculdade de Engenharia
Área onde hoje estão o Centro Administrativo e o Center Shopping eram um brejo no fim da década de 80
Núbia Mota
Repórter
Jornal Correio de Uberlândia
Alguns casebres, uma indústria de cerâmica e o prédio da Faculdade de Engenharia. Em 1963, no surgimento do bairro Santa Mônica, setor leste, o local era tomado pelo cerrado e não tinha saneamento básico, asfalto nem transporte coletivo.
Quase 50 anos se passaram e a região transformou-se na mais habitada de Uberlândia, com cerca de 34 mil habitantes, segundo a Secretaria Municipal de Planejamento.
O aposentado José Rosa do Nascimento, 76 anos, foi um dos primeiros moradores do bairro. Mudou-se em 1966 com sua esposa, Jandira Souza do Nascimento, e quatro filhos pequenos, além da caçula, que eles adotaram com três meses de vida. “O terreno era mais barato. Comprei por 4 mil cruzeiros na Imobiliária Segismundo Pereira, ali na esquina da avenida Rio Branco com a rua Duque de Caxias”, disse.
No lote de 12 por 30 metros, ele construiu um barraco de dois cômodos com a ajuda de amigos. Para conseguir água, furou uma cisterna ao lado e a luz era de lamparina. Com o tempo a casa cresceu, ganhou mais três cômodos onde o aposentado mora até hoje com a esposa, duas filhas e três netas.
“Isso aqui era um cerradão, nem dá para acreditar no que virou hoje. Tem tudo, ônibus toda hora, empório, banco. Vai aparecendo um monte de predinho e como não tenho condição, continuo na minha casa e não penso em mudar daqui”, afirmou o aposentado, que ainda trabalha em um estacionamento no Centro da cidade, para onde vai montado em uma de suas três bicicletas antigas. Uma comprada antes de ele mudar para o Santa Mônica, em 1962.
O patriarca da família acorda todos os dias às 4h, varre o terreiro, dá ração para o cachorro e antes de ir para o serviço leva a neta Raquel, de 22 anos, ao ponto de ônibus da avenida Segismundo Pereira, para pegar o coletivo às 5h15.
“É pertinho, mas perigoso para ela ir sozinha. Então eu vou até o ponto. Aí dá para minha filha, mãe dela, dormir um pouco mais“, disse o bisavó de um rapaz de 14 anos.
Moradores furavam cisternas e abriam caminhos
Entre 1949 e 1951, o aposentado João Lemes de Oliveira, 73 anos, na época com 13, morava com os pais e irmãos na propriedade de Joaquim Saraiva, pouco atrás de onde foi construída a UFU.
“Ali tinha um aeroporto particular, não me lembro de quem era. Tinha também a fazenda de Segismundo Pereira. Onde hoje é a avenida Rondon Pacheco passava um córrego e a linha de ferro”, disse João Lemes.
Vindos da cidade vizinha de Indianópolis, os pais de João Lemes compraram um pedaço de terra naquela região, cerca de 20 lotes, onde construíram uma casa.
“Fizemos uma cisterna de 100 palmos e capinávamos para abrir caminho para passar com cavalo. Mas, logo em seguida, vendemos os lotes e fomos morar no bairro Bom Jesus”, disse o aposentado que sabe mostrar com exatidão onde morava nos tempos de infância. “Parece um sonho quando venho aqui. As pessoas falavam que não iria crescer nunca”, disse ele.
Água chegava ao bairro só uma vez por semana
Os anos passaram, mas demorou para o Santa Mônica se tornar atrativo para morar. Mesmo assim, em 1986, o consultor Roni Oliveira, prestes a se casar, apostou no desenvolvimento do bairro e comprou um lote.
“Era uma oportunidade de negócio. Fui à Prefeitura, vi o plano diretor da cidade e percebi que aquele local iria melhorar”, afirmou Roni.
“Ele me levou lá para conhecer. Não tinha nada. Me deu um desespero, porque sempre morei na parte central da cidade”, disse a sua então noiva Margareth Arantes.
Assim que o sobrado ficou pronto, o mesmo que a família mora até hoje, Roni, Margareth e os dois filhos ainda bebês, Renan e Laura, se mudaram para o local. “Tinha vaca pastando na porta”, disse Roni.
Segundo Margareth, a água do bairro era escassa e liberada apenas uma vez por semana durante a madrugada, o que não era suficiente para encher a caixa d’água.
Ela então pegava os dois filhos e ia de ônibus para a casa da irmã, no bairro Daniel Fonseca, região central, lavar as fraldas, as mamadeiras e alimentar as crianças. “O Roni viajava e ônibus era raro. Passava um só”, disse ela.
“Ela me ligava chorando. Eu chegava de viagem e ia direto pro Dmae nervoso. Falava para eles ‘ou vocês mandam um caminhão-pipa lá agora ou eu trago um monte de fraldas sujas para vocês’. Eles me atendiam”, disse Roni.
As dificuldades foram superadas e a construção, valorizada. A família, hoje ainda maior com o nascimento do caçula Renee em 1990, não pensa em vender o imóvel.
“Aqui todo mundo me conhece. Sou o tio Roni. Vi muita gente nascer e crescer e não troco isso aqui por nada”, disse ele. Já Margareth relembra com alívio. “Nem acredito que sobrevivi a isso tudo. Hoje é um ótimo bairro”, afirmou.
Bares são movimentados de dia e à noite
De um parafuso a um atendimento médico. No Santa Mônica hoje se encontra de tudo. Bancos, supermercados, restaurantes, academias, salões de beleza, padarias, postos de gasolinas, lojas de calçados e roupas, entre outros. Até para se divertir à noite, não é preciso ir muito longe, o próprio bairro tem muitas opções.
Para quem gosta de um ambiente mais simples, uma boa pedida é o churrasquinho na praça Luiz Finotti, na avenida Segismundo Pereira, pouco acima da UFU.
Há seis anos, nas noites de segunda-feira a sábado, Wilson Alves da Silva monta sua churrasqueira, dispõe cadeiras e mesas e serve churrasco, refrigerante e cerveja. Em dia de bom movimento, ele chega a vender 400 unidades, com a ajuda dos filhos Mariana, 15 anos, Walisson, de 14, e na sexta-feira conta com a esposa, Miria, que trabalha como saladeira em um restaurante na própria avenida Segismundo Pereira.
O casal Miria e Wilson também faz parte da história do bairro Santa Mônica. Wilson mudou para o local com 10 anos, em 1980, e Miria se lembra com dificuldade quando bem pequena a mãe a levava consigo para lavar roupa em uma bica d’água onde hoje é o Parque do Sabiá.
“Eu era pequenininha, não lembro de quase nada, só da minha mãe falando o tanto que era difícil, porque não tinha nada por aqui”, disse Miria. Em 1992, Wilson e Mirian se casaram. Wilson trabalhou com tapeçaria e depois abriu um minimercado no bairro São Jorge, região Sul.
Os negócios não iam bem, Wilson devia muito e, com o nome sujo na praça, fechou o minimercado. “Mesmo endividado, eu não desisti. Comecei a vender churrasco aqui, como quando era pequeno e vendia churrasco e pipoca com meu pai. Hoje paguei todas as dívidas, troquei o carro, pago salário para meus filhos e agora quero financiar um comércio na avenida Segismundo Pereira mesmo, com banheiro e livre da chuva. Não quero sair deste ponto”, disse Wilson.
Padaria faz clientela no Santa Mônica
Liliane Marinho já morou no bairro Santa Mônica por 15 anos. Depois de sofrer seis assaltos, mudou-se há dois anos para o Vigilato Pereira, zona Sul. “Quando me mudei para o Santa Mônica era tranquilo, mas depois do sexto assalto, dentro de casa, eu desisti.”
Há oito meses Liliane montou uma padaria na avenida Belarmino Cotta Pacheco. A escolha foi pelo crescimento comercial do bairro e por, mesmo apesar de algumas más lembranças, ela gostar do local. “Tenho vontade de voltar para ficar mais próxima da padaria, mas tem que morar em apartamento”, disse ela. É da padaria de Liliane que saiu a receita do Rocambole de Pão-de-ló.
Primeira construção
O primeiro prédio levantado foi o Mineirão, onde hoje é o bloco 1Q, do Centro de Documentação e Pesquisa em História (CDHIS). A construção é do fim da década de 50 e, segundo a historiadora Dulcina Tereza Bonati Borges, foi feita para sediar um seminário, o Colégio Confessional da Congregação Salesiana. “Os padres não quiseram, porque achavam o local muito afastado”, afirmou Dulcina.
Foi vendido então na década de 1960 para abrigar a Faculdade de Engenharia, quando iniciou o processo de ocupação urbana do bairro e a criação da principal via de circulação que é a avenida Rondon Pacheco
O prédio foi adquirido pela Sociedade de Engenharia Química de Uberlândia e doado ao governo federal, já que havia uma exigência do Ministério da Educação para a sede pertencer à União.
O Centro Administrativo
Sede dos poderes Legislativo e Executivo, foi inaugurado em 31 de agosto de 1993. É uma obra singular do ponto de visita urbanístico, arquitetônico. São poucas as cidades no Brasil com poder de investimento para empreender um conjunto arquitetônico com cerca de 26 mil m2 de área construída, num terreno de quase 38 mil m2.
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