Nova Orla da Cidade de Belém: O que celebrar
Prós e contras são discutidos por pesquisadores do Museu Goeldi em meio às obras do Portal da Amazônia
Agencia Museu Goeldi – Com uma ocupação desordenada, a cidade foi crescendo e os primeiros lugares ocupados estavam à beira da Baía de Guajará, às margens da qual foi instalada, em 1616, Santa Maria de Belém do Grão Pará. Feliz Luzitânia, lugar onde hoje fica o Forte do Presépio, e o Mangal das Garças dão acesso à ribeira e fazem o público visitante ver paisagens que só se encontra na Amazônia. Agora, a Prefeitura de Belém quer deixar livres áreas tradicionalmente ocupadas, caso do Portal da Amazônia.
A jornalista Silvia de Souza Leão, da Agência Museu Goeldi, produziu reportagem especial para a edição de março do Destaque Amazônia sobre estudos do pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, Rodrigo Peixoto, que investiga o que se convenciona chamar a nova Orla de Belém. Trata-se de um sonho antigo para os moradores de Belém, enfim a cidade abriria as “janelas” para o rio, não fossem os grandes problemas que tem acumulado junto ao Ministério Público Federal, que tem tentado paralisar as obras por encontrar várias irregularidades.
Projeto Portal da Amazônia – O Projeto Portal da Amazônia está incluído no Projeto de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova, como é conhecida a região da Avenida Bernardo Sayão. Rodrigo Peixoto mostra em estudo, entre outras coisas, a falta de participação popular na obra do Portal. A pesquisa foi elaborada juntamente com o bolsista do MPEG, Jakson Silva.
A investigação é desenvolvida no âmbito do Observatório de Conflitos Urbanos na região Metropolitana de Belém que, nada mais é que uma base contendo dados que informa os conflitos urbanos, ajudando os pesquisadores dentro da área de estudo. O Observatório segue os moldes de iniciativas do gênero e se instala em Belém, fruto de cooperação entre o Museu Goeldi e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Com a inexistência de Projeto para esclarecer a população, pode-se afirmar ainda, que o plano inicial foi totalmente modificado, deixando o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) fora da realidade. Muito extenso, o documento traz poucas informações sobre quais os impactos que as obras causariam tanto ao meio ambiente como a sociedade.
Um Portal para o turismo - A reportagem mostra ainda, que a nova orla pretende “disputar” com outras, Brasil afora. Sem contar com a expansão imobiliária e, claro, valorizar o turismo, não somente o local, mas com os que vêm de outros lugares do país e turistas internacionais.
Rodrigo Peixoto lembra que o Projeto tem previsão de levar a orla até a Universidade Federal do Pará, com 70 metros de largura e seis pistas, incluindo espaços de lazer, ciclovias, restaurantes, entre outras coisas. A pesquisa destaca a insatisfação dos moradores locais. Estes acreditam que essa obra beneficiará as empresas mobiliárias, deixando-os fora do Projeto. Alguns já chegaram a ser remanejados para outros projetos da Prefeitura.
“Para os moradores que vivem sobre o canal, em palafitas, essa remoção não é para a melhoria da sua vida. É um mecanismo para abrir espaços para empreendimentos de classe média, para o lazer, construção de apartamentos de alto valor econômico e não para os moradores tradicionais, muitas vezes remanejados para distante, perdendo seus vínculos sociais, familiares e de trabalho”, diz Rodrigo.
Feirantes preocupados: Conflitos existentes – Movimentos diários e constantes, a obra do Projeto Portal da Amazônia preocupa a população trabalhadora, principalmente, os feirantes dos portos da Palha e do Açaí, locais diretamente atingidos pelas obras. Com uma produção intensa da parte de ribeirinhos que vão até a feira para vender, seja fruta regional ou animais e comprar materiais para o próprio sustento, a remoção de portos ou mesmo sua realocação podem significar o impedimento da atividade comercial que é parte da cultura local.
O estudo do pesquisador da Coordenação de Ciências Humanas do Museu Paraense Emílio Goeldi demonstra que a Prefeitura despreza a realidade social e cultural dos usuários dos portos.O Destaque Amazônia deste mês problematiza a questão da ocupação da ribeira da cidade e esclarece dúvidas sobre o Projeto Portal da Amazônia. Acesse a edição no link
Texto: Denilton Resque
http://www.museu-goeldi.br/sobre/NOTICIAS/destaque/2012/marco2012.html