Um artigo interessante sobre o Colosso do Norte.
Vivaldão: Epílogo!
Por: Isaac Júnior* em: 31 de março de 2010
O futebol amazonense está prestes a ter mais uma página virada de sua longa trajetória. A história do Vivaldo Lima, que começou há 40 anos, chega ao fim com a demolição do estádio e a construção da Arena da Amazônia. A pedra fundamental já foi lançada, mas bem que esse “rito de passagem” (início da demolição) poderia começar apenas depois do dia 5 de abril. É a data do aniversário, motivo de sobra para o último “parabéns a você” em respeito à história do estádio. Fica a dica.
O tempo é curto, não há como frear o progresso. A Copa do Mundo vem aí e a empreitada vai começar. Não ficará pedra sobre pedra. E como o momento é também de saudosismo, até dá para imaginar como estão Flaviano Limongi, Arnaldo Santos, Orlando Rebelo, Nonato Farias, Chinelinho, Carlos Zamith, Marcos Santos, Édson “Bom Baiano”, Jaime Barreto, Nelson Brilhante, Carlos de Souza, Dudu Monteiro de Paula, Roberto Questa, Amarildo Silva e tantos outros (colegas antigos e mais jovens) que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a construção dessa história.
O saudosismo pode até durar muito tempo e a empolgação com o novo complexo tomar conta dos mais jovens, mas uma coisa é certa: o Vivaldão jamais será esquecido. A contribuição que ele deu ao esporte está além dos livros, dos arquivos das TVs, rádios e jornais. Nunca será apagada.
Em 5 de abril de 1970, as seleções A e B do Brasil golearam as seleções A e B do Amazonas por placar igual de 4 a 1. Manaus parou para a festa de inauguração do “Colosso do Norte”. Entre os convidados, o presidente da então Confederação Brasileira de Desporto (CBD), João Havelange; o presidente da Fifa, Stanley Rous; e um público espetacular. Em campo, as feras retribuíram o carinho. Pelé, Tostão, Gerson, Rivelino e companhia deixaram boa impressão. E desse convívio de apenas poucas horas, o Brasil partiu para a conquista do tricampeonato mundial no México. Entre os craques bares estavam os irmãos Piola, Pepeta, Rolinha e Marialvo. Nenhum foi tratado como coadjuvante. Todos mostraram força diante dos ídolos e a festa foi completa.
Integrante de uma geração que começou a entender um pouco da magia do futebol já nos primórdios da década de 70, e apesar de não ter visto a inauguração de 70, sou daqueles que podem testemunhar alguns bons momentos do “velho” Vivaldão.
Acompanhei a reforma e, por conseguinte, a reinauguração do estádio em 1995, marcada pela vitória do Brasil sobre a Colômbia por 3 a 1. Depois vieram a Croácia, Bósnia e o Equador. O velho-novo Vivaldão continuava verde e amarelo.
E o futebol local, hein?! Quase sempre era emocionante ir ao Vivaldão, entre as décadas de 70 e 80, para acompanhar um Rio-Nal, um Pai x Filho e um Rio Negro x Fast. Tínhamos de sair cedo de casa, encarar o ônibus lotado, enfrentar filas, para não perder nenhum detalhe. Mas tudo era motivo de orgulho. Valia a pena.
E na hora de voltar pra casa? Os ônibus estavam mais lotados ainda, e o jeito era ir correndo. E corríamos mesmo, pela Constantino Nery, com destino ao bairro Presidente Vargas (antiga Matinha) e na ânsia de chegar logo. A blusa ficava na mão e o radinho colado ao ouvido, pois não podíamos perder as reportagens e comentários finais.
A história se repetiu por muitos anos. E foi assim também no dia 9 de março de 1980, quando o Fast empatou com o Cosmos de Nova York. Tinha tanta gente no Vivaldão, que eu tive de assistir ao jogo de cócoras, durante todos os 90 minutos. Não houve outro jeito. Imagine como ficaram as pernas depois!?
Em 1986 vi o Nacional – do técnico Aderbal Lana e de craques como Sérgio Duarte, Helinho, Murica, Carlos Alberto Barbosa – dar show no Vivaldão, colocar na roda equipes poderosas como Palmeiras, Atlético Mineiro e Internacional.
E depois de tantos anos acompanhando futebol, acabei percorrendo um caminho ainda mais próximo dele. À beira do campo, como jornalista eu vi a ascensão do São Raimundo. Mesmo escrevendo para um grande jornal da cidade, compartilhei alegrias e tristezas. Vi as vitórias sobre o Paysandu, o Sampaio Correia e Náutico. Testemunhei a conquista do tri da Copa Norte e as vagas na Série B do Campeonato Brasileiro, na Copa dos Campeões e na Conmebol. O Vivaldão é testemunha de tudo isso!
Se fosse contar outros fatos que marcaram a minha relação com o estádio e a do próprio Vivaldão com seus atores principais, torcedores e cronistas, certamente teríamos de escrever um livro.
E toda essa minha relação, que começou em 1973, só podia terminar lá, dentro de campo. Podia, mas jamais imaginaria que fosse possível. Em dezembro passado, pela primeira e única vez tive a oportunidade de jogar no “tapete verde” do estádio. Participei de um torneio promovido pelos funcionários da Rede Amazônica e, apesar de perder a final para a turma do Transporte, senti-me gratificado. A brincadeira foi organizada pelo companheiro Dudu Monteiro de Paula e serviu para darmos o nosso adeus ao Vivaldo Lima.
Por tudo isso e por aqueles que também estão sentindo na pele o que é perder uma coisa tão significante, como é o Vivaldão, deixo aqui os meus agradecimentos.
PS: o mundo esportivo está de luto pela morte de Armando Nogueira. Que Deus o tenha em um bom lugar, pois ele merece tudo de bom e um pouco mais pela pessoa que foi.
http://portalamazonia.globo.com/pscript/artigos/artigo.php?idArtigo=1346