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Nas décadas de 1920 a 30 a cidade de Ilhéus, no sul da Bahia, vivia uma época de grande prosperidade econômica em consequencia da grande produção de cacau da região, que alcançava altos preços no mercado internacional.
De simples e decadente vila, ao final do século XIX, em poucas décadas, a cidade viu sua população multiplicar, com a chegada de aventureiros de toda espécie e prestadores de serviços para a elite cacaueira, vindos de outras partes da Bahia e de outros estados do Nordeste, principalmente Sergipe, do resto do Brasil e ainda do exterior, notadamente comerciantes sírio/libaneses, então chamados de “turcos”. Por seu porto era escoada a produção local do cacau e importados quase tudo que ali se consumia, inclusive artigos de luxo, materiais de construção sofisticados, destinados às ricas mansões dos coronéis, novas casas de espetáculos, para a nova catedral, novos e sofisticados hoteis, bancos etc, fazendo dela, então, uma das cidades que mais cresciam e prosperavam no Brasil.
Ali mandavam os grandes produtores de cacau, conhecidos como coronéis, que tinham poder de vida e morte sobre aqueles que lhes eram subordinados. Na sociedade patriarcal vigente, cabiam as esposas a manutenção das casas e das famílias. Aos poderosos tudo era permitido, inclusive a frequência aos bordeis de luxos, como o famoso cabaré Bataclan, habitado por prostitutas, escolhidas entre as mais belas, muitas delas de origem européia, as famosas polacas, todas sob o comando da famosa Antonia Machado, a “Maria Machadão” da ficção.
Jorge Amado, ele próprio filho de um “coronel”, então adolescente, vivenciou este período de grande efervescência de Ilhéus e, tempos depois, escreveu vários romances que descreviam esta realidade (Terras do sem fim, Suor, e outros), misturada à ficção, culminando com, talvez, o mais popular dos seus romances, o “Gabriela Cravo e Canela”, que sintetiza o poder, a sedução e as relações conflituosas da sociedade local.
Neste momento em que o remake da novela, baseado neste romance, vai ao ar apresento alguns dos locais emblemáticos, referidos no romance e na serie televisiva, e as transformações pelas quais eles, e a cidade de Ilhéus, num todo, passaram até chegar aos dias de hoje. Muito do fausto antigo se perdeu, muito prédio se arruinou ou foi derrubado, tanto pela decadência econômica, causada pela praga que consumiu a lavoura cacaueira, em tempos posteriores, como também em nome da “modernidade”.
Espero que esta coletânea contribua para melhor conhecer e entender o fascínio que essa cidade ainda guarda, símbolo dos áureos tempos da produção do “fruto de ouro”.
As fotos antigas foram retiradas do “Álbum Artístico, Commercial e Industrial da Bahia”, editado por Folgueira, em 1930, e do livro “Minha Ilhéus”, de José Nazal Pacheco Soub, de 2005. As fotos atuais foram garimpadas na net.
1. Antiga igreja de São Sebastião (demolida) e casarão do Vesúvio (pastelaria fundada por italianos em 1910)
Anos 20
Fonte: José Pacheco Nazal Saub
Atual igreja (catedral) de 1931 e o Bar Vesúvio

017 por O Grapiúna, no Flickr
Interior da Catedral

ILHÉUS por Petronio Gonçalves, no Flickr

Catedral de São Sebastião - Praça Dom Eduardo por gilson c holovaty, no Flickr
2. Bar/Restaurante Vesúvio (no romance/novela de propriedade do turco Nacib e onde Gabriela trabalhava)

Bar Vesuvio em Ilhéus / Bahia por jgustavoam, no Flickr
("Jorge Amado", ali sentado aguarda os visitantes)

2011_07_08_vesúvio_Ilhéus_foto_João_Ramos_Bahiatursa081 por turismobahia, no Flickr

Vesúvio (ヴェスヴィオ) por koichimura, no Flickr
3. Prefeitura (Palácio Paranaguá), construção inspirada no antigo Palácio Rio Branco, de Salvador, na versão de antes do incêndio e reforma, de 1910. O cargo de intendente (prefeito) era ferozmente disputado entre os coronéis do cacau.
Anos 30
Folgueira
Atualmente

Prefeitura Municipal de Ilhéus por O Grapiúna, no Flickr

Prefeitura de Ilhéus por f_kikolaus, no Flickr
Cabaré Bataclan
Em ruínas (anos 50?)
Atualmente (restaurado)

Bataclã por Anabel Mascarenhas, no Flickr

Festival Chocolate Ilhéus - Bataclan - Foto João Ramos - Bahiatursa por turismobahia, no Flickr
Interior do Bataclan

Bataclan por Ana Laura Ⓥ, no Flickr

Bataclan por jailsonrp, no Flickr

Bataclan por Ana Laura Ⓥ, no Flickr

Bataclan por Ana Laura Ⓥ, no Flickr

Quarto de Maria Machadão

Bataclan por Ana Laura â“‹, no Flickr
5. Associação Comercial (onde se reuniam os negociantes de cacau)
Anos 30 (logo após a inauguração)
Atualmente

Centro de Ilhéus 02 por Eber Paz, no Flickr
6. Convento da Piedade (de 1929), onde estudavam as filhas dos "coronéis".

Piety Church por koichimura, no Flickr
7. Grupo escolar
Anos 20
Atualmente (Biblioteca e arquivo publico municipal)

Biblioteca Municipal de Ilhéus por O Grapiúna, no Flickr
RESIDÊNCIAS DOS ANTIGOS CORONÉIS
8. Casa do Coronel Misael Tavares (que teria inspirado Jorge Amado na criação do personagem Ramiro Bastos, interpretado agora, na novela, por Antonio Fagundes)
Anos 20
Atualmente

Casa de Misael Tavares em Ilhéus por Rede de Comunidades Solaris, no Flickr
9. Casa do Coronel Ramiro Idelfonso
Anos 20
Atualmente (Colégio Impacto)
10. Casa do coronel João Amado de Farias, pai de Jorge Amado (atual casa de cultura do escritor)

Passeios em Ilhéus por DIÁRIOdeMOTOCICLETA, no Flickr
11. Casa de Tonico Bastos (atualmente). Personagem de Marcelo Serrado na atual novela

Casa Tonico Bastos- Ilhéus. Foto: João Ramos - Bahiatursa por turismobahia, no Flickr
12. Casa do Coronel Pessoa e chafariz da Praça (onde talvez “Gabriela” tenha se banhado...). Anos 20. Tudo desaparecido.
13. Antiga casa do Coronel Domingos Adami de Sá, hoje Casa dos Artistas

Casa de Jorge Amado por Luís...Henrique, no Flickr
14. Ilhéus Hotel (que ainda funciona, e foi o primeiro do interior da Bahia a ter elevador)
Anos 30
Atualmente

Centro de Ilhéus fotografado da ponte Lomanto Júnior. por Alberto*, no Flickr
15. Hotel Coelho
Anos 20/30
Atualmente (Hotel demolido no local o Banco Itaú)
Panoramio: Cerrado (editado)
16. Teatro (construído em 1932)

Teatro por O Grapiúna, no Flickr
17. Panorâmica do porto antigo (Bacia do Almada)
Anos 20
Atualmente

Baía- Ilhéus. Foto: João Ramos - Bahiatursa por turismobahia, no Flickr
18. Igreja de São Jorge (Século XVI)
Paisagem quase imutável desde os anos 30, com o palacete de Misael Tavares (casa rosa), ao lado, e casa de Tonico Bastos (amarela), ao fundo. Calçamento da rua importado da Inglaterra (anos 30).

Matriz São Jorge- Ilhéus. Foto: João Ramos - Bahiatursa por turismobahia, no Flickr
19. Rua do Centro
Anos 30
Atualmente

Centro histórico de Ilhéus por Luís...Henrique, no Flickr
20. Avenida Soares Lopes (Beira mar)
Anos 20/30 (sentido centro)
Atualmente

Ilhéus - Avenida Soares Lopes por ruy_reis2000, no Flickr
Anos 20/30 (sentido atual porto)
Atualmente

Ilhéus - Avenida Soares Lopes por ruy_reis2000, no Flickr
21. Panorâmica do Centro
Anos 30
Atualmente

View of Ilhéus por koichimura, no Flickr
22. Panorâmica da orla
Anos 30
Atualmente

Morro de Pernambuco por brenda melo, no Flickr

Ilhéus HDR por O Grapiúna, no Flickr
De simples e decadente vila, ao final do século XIX, em poucas décadas, a cidade viu sua população multiplicar, com a chegada de aventureiros de toda espécie e prestadores de serviços para a elite cacaueira, vindos de outras partes da Bahia e de outros estados do Nordeste, principalmente Sergipe, do resto do Brasil e ainda do exterior, notadamente comerciantes sírio/libaneses, então chamados de “turcos”. Por seu porto era escoada a produção local do cacau e importados quase tudo que ali se consumia, inclusive artigos de luxo, materiais de construção sofisticados, destinados às ricas mansões dos coronéis, novas casas de espetáculos, para a nova catedral, novos e sofisticados hoteis, bancos etc, fazendo dela, então, uma das cidades que mais cresciam e prosperavam no Brasil.
Ali mandavam os grandes produtores de cacau, conhecidos como coronéis, que tinham poder de vida e morte sobre aqueles que lhes eram subordinados. Na sociedade patriarcal vigente, cabiam as esposas a manutenção das casas e das famílias. Aos poderosos tudo era permitido, inclusive a frequência aos bordeis de luxos, como o famoso cabaré Bataclan, habitado por prostitutas, escolhidas entre as mais belas, muitas delas de origem européia, as famosas polacas, todas sob o comando da famosa Antonia Machado, a “Maria Machadão” da ficção.
Jorge Amado, ele próprio filho de um “coronel”, então adolescente, vivenciou este período de grande efervescência de Ilhéus e, tempos depois, escreveu vários romances que descreviam esta realidade (Terras do sem fim, Suor, e outros), misturada à ficção, culminando com, talvez, o mais popular dos seus romances, o “Gabriela Cravo e Canela”, que sintetiza o poder, a sedução e as relações conflituosas da sociedade local.
Neste momento em que o remake da novela, baseado neste romance, vai ao ar apresento alguns dos locais emblemáticos, referidos no romance e na serie televisiva, e as transformações pelas quais eles, e a cidade de Ilhéus, num todo, passaram até chegar aos dias de hoje. Muito do fausto antigo se perdeu, muito prédio se arruinou ou foi derrubado, tanto pela decadência econômica, causada pela praga que consumiu a lavoura cacaueira, em tempos posteriores, como também em nome da “modernidade”.
Espero que esta coletânea contribua para melhor conhecer e entender o fascínio que essa cidade ainda guarda, símbolo dos áureos tempos da produção do “fruto de ouro”.
As fotos antigas foram retiradas do “Álbum Artístico, Commercial e Industrial da Bahia”, editado por Folgueira, em 1930, e do livro “Minha Ilhéus”, de José Nazal Pacheco Soub, de 2005. As fotos atuais foram garimpadas na net.
1. Antiga igreja de São Sebastião (demolida) e casarão do Vesúvio (pastelaria fundada por italianos em 1910)
Anos 20

Fonte: José Pacheco Nazal Saub
Atual igreja (catedral) de 1931 e o Bar Vesúvio

017 por O Grapiúna, no Flickr
Interior da Catedral

ILHÉUS por Petronio Gonçalves, no Flickr

Catedral de São Sebastião - Praça Dom Eduardo por gilson c holovaty, no Flickr
2. Bar/Restaurante Vesúvio (no romance/novela de propriedade do turco Nacib e onde Gabriela trabalhava)

Bar Vesuvio em Ilhéus / Bahia por jgustavoam, no Flickr
("Jorge Amado", ali sentado aguarda os visitantes)

2011_07_08_vesúvio_Ilhéus_foto_João_Ramos_Bahiatursa081 por turismobahia, no Flickr

Vesúvio (ヴェスヴィオ) por koichimura, no Flickr
3. Prefeitura (Palácio Paranaguá), construção inspirada no antigo Palácio Rio Branco, de Salvador, na versão de antes do incêndio e reforma, de 1910. O cargo de intendente (prefeito) era ferozmente disputado entre os coronéis do cacau.
Anos 30

Folgueira
Atualmente

Prefeitura Municipal de Ilhéus por O Grapiúna, no Flickr

Prefeitura de Ilhéus por f_kikolaus, no Flickr
Cabaré Bataclan
Em ruínas (anos 50?)

Atualmente (restaurado)

Bataclã por Anabel Mascarenhas, no Flickr

Festival Chocolate Ilhéus - Bataclan - Foto João Ramos - Bahiatursa por turismobahia, no Flickr
Interior do Bataclan

Bataclan por Ana Laura Ⓥ, no Flickr

Bataclan por jailsonrp, no Flickr

Bataclan por Ana Laura Ⓥ, no Flickr

Bataclan por Ana Laura Ⓥ, no Flickr

Quarto de Maria Machadão

Bataclan por Ana Laura â“‹, no Flickr
5. Associação Comercial (onde se reuniam os negociantes de cacau)
Anos 30 (logo após a inauguração)

Atualmente

Centro de Ilhéus 02 por Eber Paz, no Flickr
6. Convento da Piedade (de 1929), onde estudavam as filhas dos "coronéis".

Piety Church por koichimura, no Flickr
7. Grupo escolar
Anos 20

Atualmente (Biblioteca e arquivo publico municipal)

Biblioteca Municipal de Ilhéus por O Grapiúna, no Flickr
RESIDÊNCIAS DOS ANTIGOS CORONÉIS
8. Casa do Coronel Misael Tavares (que teria inspirado Jorge Amado na criação do personagem Ramiro Bastos, interpretado agora, na novela, por Antonio Fagundes)
Anos 20

Atualmente

Casa de Misael Tavares em Ilhéus por Rede de Comunidades Solaris, no Flickr
9. Casa do Coronel Ramiro Idelfonso
Anos 20

Atualmente (Colégio Impacto)

10. Casa do coronel João Amado de Farias, pai de Jorge Amado (atual casa de cultura do escritor)

Passeios em Ilhéus por DIÁRIOdeMOTOCICLETA, no Flickr
11. Casa de Tonico Bastos (atualmente). Personagem de Marcelo Serrado na atual novela

Casa Tonico Bastos- Ilhéus. Foto: João Ramos - Bahiatursa por turismobahia, no Flickr
12. Casa do Coronel Pessoa e chafariz da Praça (onde talvez “Gabriela” tenha se banhado...). Anos 20. Tudo desaparecido.

13. Antiga casa do Coronel Domingos Adami de Sá, hoje Casa dos Artistas

Casa de Jorge Amado por Luís...Henrique, no Flickr
14. Ilhéus Hotel (que ainda funciona, e foi o primeiro do interior da Bahia a ter elevador)
Anos 30

Atualmente

Centro de Ilhéus fotografado da ponte Lomanto Júnior. por Alberto*, no Flickr
15. Hotel Coelho
Anos 20/30

Atualmente (Hotel demolido no local o Banco Itaú)

Panoramio: Cerrado (editado)
16. Teatro (construído em 1932)

Teatro por O Grapiúna, no Flickr
17. Panorâmica do porto antigo (Bacia do Almada)
Anos 20

Atualmente

Baía- Ilhéus. Foto: João Ramos - Bahiatursa por turismobahia, no Flickr
18. Igreja de São Jorge (Século XVI)
Paisagem quase imutável desde os anos 30, com o palacete de Misael Tavares (casa rosa), ao lado, e casa de Tonico Bastos (amarela), ao fundo. Calçamento da rua importado da Inglaterra (anos 30).

Matriz São Jorge- Ilhéus. Foto: João Ramos - Bahiatursa por turismobahia, no Flickr
19. Rua do Centro
Anos 30

Atualmente

Centro histórico de Ilhéus por Luís...Henrique, no Flickr
20. Avenida Soares Lopes (Beira mar)
Anos 20/30 (sentido centro)


Atualmente

Ilhéus - Avenida Soares Lopes por ruy_reis2000, no Flickr
Anos 20/30 (sentido atual porto)

Atualmente

Ilhéus - Avenida Soares Lopes por ruy_reis2000, no Flickr
21. Panorâmica do Centro
Anos 30

Atualmente

View of Ilhéus por koichimura, no Flickr
22. Panorâmica da orla
Anos 30

Atualmente

Morro de Pernambuco por brenda melo, no Flickr

Ilhéus HDR por O Grapiúna, no Flickr