A noite é o melhor horário para fazer inspeção de trilhos do metrô

Carlos Frederico Guedes Pereira, 37

filho de mãe coruja


Não há ninguém na estação, os trens pararam e os quilômetros de túneis estão livres. Têm curvas suaves, parafusos enfileirados nos trilhos, uma composição de diferentes tipos de luzes, a branca, a de vapor de sódio. "Não é bonito?", pergunta Frederico. Antes da resposta, o engenheiro civil do Metrô de SP sorri e encerra. "É lindo".

As noites sem dormir sempre foram coisa boa -e intensamente produtivas- para Carlos Frederico Guedes Pereira, 37. Na adolescência, tinha a companhia de Clarisse, 73, a mãe, que preferia cuidar da casa durante madrugada. Até hoje, ela passa roupa enquanto boa parte da população ressona.

Enquanto isso, Fred estudava. Ia para a escola cedo, à tarde dormia um pouco e lá pelas 15h começava os afazeres- ia até as 4h, 5h.

Emendou assim a faculdade, e, quando pôde, escolheu um trabalho noturno, nas inspeções de trilhos das linhas do metrô de São Paulo, com turnos das 22h30 até as 6h. Estudava das 7h30 às 13h30, chegava em casa às 15h e até as 21h dormia e preparava trabalhos acadêmicos.

Empolgado com a facilidade para ficar em alerta, Frederico chegava a dormir só três horas, até que o risco de diabetes o forçou a dar uma amenizada.

"O espírito não reclamava, mas o corpo, sim."

O casamento, a filha de um ano e o bebê a caminho vão bem. Ele e a mulher, a programadora Kaori, se conhecem desde crianças; os laços são tão fortes que os horários divergentes não atrapalham, diz.

"Coisas que para a maioria são um inferno, como cuidar do carro, pagar contas, eu faço tranqüilamente de dia. Quando ela chega, no início da noite, o tempo é só pra nós dois."