Iphan aceita proposta do DER e da Secretaria de Transportes para a instalação de muretas de contenção na faixa central do Eixo Rodoviário. Discussão agora é sobre o modelo a ser adotado
O Eixo Rodoviário terá barreiras na faixa central. A proposta acaba de passar pelo crivo da superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Polêmica, a medida é discutida há pelo menos 12 anos. Vencida a primeira batalha, começa outra: decidir qual sugestão do Governo do Distrito Federal terá menor impacto visual e, portanto, interferência mínima na área tombada. As barreiras não encontram consenso entre especialistas. Muitos defendem que as mortes na rodovia só serão reduzidas com educação dos motoristas e mais rigor na fiscalização.
Entre hoje e amanhã, os técnicos do Iphan e do GDF se encontrarão para decidir qual é a melhor opção entre as seis apresentadas pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Metade delas prevê algum tipo de equipamento físico no canteiro central da rodovia. As outras três consistem em rebaixar ou gramar o canteiro central ou ainda colocar na área duas fileiras de tachões, também conhecidos como olhos-de-gato (veja arte).
Apesar de ter aceitado a sugestão da barreira, o superintendente regional do Iphan, Alfredo Gastal deixou clara a sua insatisfação. “Vamos acatar por ser uma proposta antiga, defendida por especialistas e que não vai ferir o tombamento do Plano Piloto”, disse. “Mas, na minha opinião, a violência no trânsito se combate com aumento de pardais, policiamento e fiscalização nas auto-escolas ”, defendeu.
O professor Joaquim Aragão, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), também criticou a proposta, chamando-a de “lamentável”. “Se você analisar bem as causas dos acidentes vai descobrir que o motorista estava a 130km/h ou falava ao celular. Não se pode fazer interferências na cidade baseadas nas maluquices dos moradores”, disparou.
Avanço
Para o mestre em engenharia de tráfego José Léles de Souza, a segurança de pedestres e motoristas é prioridade. Entre as teses elaboradas pelo DER, ele demonstra preferência por duas: a barreira metálica e o canteiro central gramado. “O metal absorve parte do impacto e faz com que o veículo pare ou retorne para apenas uma das três pistas. Já o gramado precisa ser alargado para manter o veículo sem controle longe da contramão ou da própria pista”, explicou Léles, que é professor da Universidade do Vale do Itajaí (SC) e morou sete anos em Brasília.
O secretário de Transportes, Alberto Fraga, não quis antecipar qual medida considera mais eficaz, mas considerou a decisão do Iphan como um avanço. “Não há tombamento que resista à perda de vidas humanas. Isso mostra maturidade e sensibilidade do Iphan”, avaliou. O pacote de sugestões do DER inclui a revitalização e construção de passagens subterrâneas, além da criação de uma ciclovia. Mudanças que, segundo o superintendente de Trânsito do DER, Rui Corrêa Vieira, vão reduzir a média anual de 14 mortes ao longo do Eixão. O Iphan informou que a proposta de se construir uma ciclovia entre o Eixão e os Eixinhos está em análise e a revitalização das passagens subterrâneas foi aprovada.
análise DA NOTÍCIA
O concreto ilusório
Instalar muretas no Eixão sem investimento em educação no trânsito é medida ilusória. A solução parece concreta, porque dá para ser vista, tocada. Mas não pode anular o que nos parece abstrato e que seria mais eficiente: mudar o comportamento do motorista, torná-lo mais responsável. Isso passa por campanhas educativas, fiscalização ostensiva e punição aos que provocam acidentes. Medidas para tornar o trânsito do DF mais seguro sempre são bem-vindas. A discussão sobre a barreira central de segurança no Eixão é necessária, oportuna. Mas a pressa, não. O Iphan aceitou a instalação. Entre as propostas, uma mureta de concreto e canteiro verde. As conversas, no entanto, não podem se limitar agora a que tipo de barreira será, entre as seis propostas apresentadas pela Secretaria de Transportes. É preciso um debate mais profundo para se traçar uma política pública de trânsito que alie projetos de intervenção viária a ações direcionadas a melhorar a formação e fiscalização dos motoristas.
Entrevista com Alberto Fraga e Alfredo Gastal
Medidas
Mais passagens subterrâneas e revitalização das existentes
Construção e reforma de rampas e corrimões
Deslocamento de algumas linhas de ônibus para os eixinhos internos
Mais policiamento nas passagens subterrâneas
Monitoramento por câmeras
Campanhas educativas
Sinalização vertical
Fonte: DER
Audiência sobre a CMT
O projeto de lei (PL) que cria a Companhia Metropolitana de Trânsito (CMT) chegou ontem ao Plenário da Câmara Legislativa. A proposta, protocolada pelo governo na tarde de segunda-feira, foi lida durante a sessão ordinária da Casa e já causou polêmica. Depois de discutir o projeto, os parlamentares decidiram fazer uma audiência pública para ouvir a opinião do governo, dos agentes do Departamento de Trânsito (Detran) e de especialistas. Assim, apesar de o GDF ter enviado o PL em regime de urgência, a tramitação dele deve ficar parada até a realização da audiência, dentro de 10 dias.
Os agentes do Detran, que são contra a CMT, lotaram os corredores da Câmara para pressionar os distritais. Os petistas Cabo Patrício, Érika Kokay e Paulo Tadeu, além de José Antônio Reguffe (PDT) e o próprio presidente da Casa, Alírio Neto (PPS), discursaram contra o projeto. Segundo eles, é contraditório o governo anunciar um corte de despesas nos gastos públicos e determinar a criação de uma nova autarquia.
Paulo Tadeu sugeriu a realização da audiência pública, que foi aprovada por Alírio Neto, mas ainda não tem data marcada. “Esse projeto deve ser amplamente debatido. Precisamos entender qual o objetivo da criação dessa companhia para ver se ela vai ser boa para a sociedade. De antemão, já vimos uma série de questionamentos em relação ao projeto”, disse Tadeu. Será a segunda vez que os deputados discutem a criação da CMT: a primeira audiência pública ocorreu em 14 de dezembro do ano passado.
Fonte: Correio Braziliense edição 07/05/2008