27/05/2008 - 09h32
Claudia Andrade
Em Brasília
O transporte público ineficiente fez surgir em Brasília um mercado pirata de carros de passeio que fazem as vezes de ônibus, levando passageiros. Em veículos novos ou velhos, de vários modelos, cores e até com insulfilm, os condutores (homens e mulheres) gritam para onde vão e, às vezes, reforçam que o preço é o mesmo da maioria das linhas de ônibus da capital federal: R$ 2.
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Para quem está parado esperando o ônibus regular que demora a aparecer, ou então passa lotado, a "carona paga" acaba sendo uma alternativa. Há quem utilize a opção de transporte diariamente, passando a conhecer os motoristas, e até se beneficiando, eventualmente, de um desvio de trajeto, para ficar mais perto de seu destino. Mas há também quem aponte riscos, principalmente para mulheres desacompanhadas, como destaca o capitão Sérgio Roballo, do BPTran (Batalhão de Polícia de Trânsito).
"Meu conselho para o usuário seria: no horário de pico, o ônibus passou cheio, tenha paciência, aguarde um ônibus e não incentive a pirataria", diz.
Uma ação conjunta do DFTrans, Detran, BPTran e Companhia de Polícia Rodoviária monitora os veículos suspeitos e realiza blitze. Desde o início deste ano, segundo a Secretaria de Transportes, 809 veículos piratas foram apreendidos, sendo 381 carros de passeio, 25 ônibus e 403 vans. Para fugir da fiscalização, os motoristas mudam os locais de desembarque mais visados, como a rodoviária do Plano Piloto.
O próprio secretário de Transportes Alberto Fraga, reconhece que a precariedade do transporte público estimula a existência dos piratas. "Se você me pergunta: tem como combater? Eu digo que não tem, porque a única forma é oferecer um transporte público de qualidade."
Trocados para bancar a gasolina
O gerente de fiscalização da DFTrans, Pedro Jorge, fala da existência de um esquema que reúne vários motoristas para fazer o transporte clandestino. Eles teriam uma pessoa para pegar passageiros em pontos de grande movimento, como a rodoviária, e lotar um carro estacionado em local não fiscalizado. Também se cotizariam para pagar a multa de quem fosse pego pela fiscalização. A multa vai de R$ 2 mil, para quem é flagrado pela primeira vez, a R$ 5 mil, para os reincidentes. "Se o carro for muito velho, eles nem vão buscar; preferem comprar outro", diz.
Jorge calcula que os carros de transporte pirata começaram a circular há cerca de cinco anos, mas afirma que o esquema "está ficando mais forte". "Nós apreendemos, em média, 50, 60 carros por semana."
"Eles têm um trabalho de contra-informação, com gente para vigiar se tem polícia na área", acrescenta o cap. Roballo, dizendo que também já aconteceu de um policial ser flagrado no serviço pirata. "Estes casos a gente conduz até a corregedoria, que toma as providências."
No entanto, fora do esquema mais organizado, existe um contingente ainda maior de condutores de ocasião, os que pegam passageiros no caminho da casa para o trabalho ou vice-versa. "É o que a gente chama de 'fazer gasolina'. E eles são maioria", diz Roballo. "Essas pessoas são empregadas, e têm no transporte pirata outra fonte de recurso. Mas elas têm que saber que a multa é muito cara, não vale a pena. Fora o risco de um acidente, já que a pessoa não é preparada para transportar passageiro, não é especializada."
Apesar do alerta, na prática, o trabalho de fiscalização não tem inibido a ação dos condutores. "Não diminui, porque é uma facilidade para se conseguir dinheiro. Sempre tem carros novos na nossa fiscalização", admite Roballo. O DFTrans estima que os condutores consigam arrecadar cerca de R$ 100 por dia.
http://noticias.uol.com.br/especiais/transito/2008/05/27/ult5848u30.jhtm