No relatório do anteprojecto da “Comissão Promotora da Construção do Caminho-de-Ferro”, são feitas considerações que, pelo seu interesse, transcrevemos:
No relatório do anteprojecto da “Comissão Promotora da Construção do Caminho-de-Ferro”, são feitas considerações que, pelo seu interesse, transcrevemos: “Compenetrados da necessidade e vantagens da construção nesta ilha duma linha férrea de via reduzida que, pelo menos, ligue a cidade à vila da Ribeira Grande, pelo norte, e às Furnas ou, porventura, à Povoação, pelo sul, decidimo-nos reunir em comissão a fim de conseguir obter os dados técnicos e económicos indispensáveis à completa convicção da urgência e utilidade de obra tão importante e fértil em resultados, como são: fomento às indústrias, valorização da propriedade, impulso à agricultura, incitamento ao trabalho, barateamento de transportes, comodidade fornecida aos estrangeiros e mais visitantes dos nossos campos, engrandecimento da riqueza particular e pública, enfim o melhoramento que, a par do porto artificial de Ponta Delgada e da comunicação telegráfica submarina, maior e mais benéfica influência pode exercer no nosso meio económico.” E, atendendo “às excelentes condições que a ilha de S. Miguel tem para o empreendimento”, escreveram: “O saber-se que as vantagens de uma linha férrea estão na razão directa da população e da riqueza do país que atravessa e que só, talvez, na Bélgica se encontrem regiões tão ricas e em que a população seja tão densa como entre nós…” A população total de S. Miguel era de 118.644 habitantes, considerando o autor que circulariam na linha cerca de 82.316 passageiros por ano (43.099 de movimento ordinário; 30.000 originado pelas festividades; 5.000 visitantes das Furnas durante 4 meses de Verão; 4.217 de visitantes estrangeiros, ou seja, 50% da totalidade), que renderiam 40.000 reis.
Ao referirem a receita que resultaria do movimento de mercadorias dão-nos interessantes informações: as fábricas de álcool produziam 6.600.000 de litros, que resultavam da transformação de 60.000.000 quilos de batata, 1.000.000 de quilos de cevada, e 1.000.000 de quilos de milho (eram exportados 8.000.000 de litros de milho). Essas fábricas utilizariam como combustível 6.250.000 quilos de carvão. A exportação de ananases era aproximadamente de 100.000 malotes por ano, de 10 frutos cada um, o que dava 3.000 toneladas. A exportação de laranja era, ainda, de 40.000 malotes, com o peso de 1.500 toneladas. Exportavam-se 10.000.000 de litros de favas e 11.000 litros de frutos diversos (inhames, cebolas, bananas, etc.) e 12 toneladas de espadana em fio.
Produziam-se: 5.500.000 litros de vinho; 200.000 toneladas de tabaco, sendo cerca de 100.000 manipuladas pelas fábricas. A água das lombadas tinha um movimento (garrafas cheias e vazias) de 3.200 toneladas e as fábricas de louça da Lagoa movimentavam 200 toneladas, não contando com o barro que importavam (na ilha de S. Miguel a produção agrícola era notável, mesmo sem subsídios).
As importações andavam à volta das 4.000 toneladas, sendo a mais importante a de pedra de cal (3.020.000 litros), trigo e farinha (464.300 quilos) açúcar (322.907 quilos) e a de melaço (148.400 quilos). O cálculo para o valor real do movimento de mercadorias na linha férrea era de 86:135$000 reis, já deduzida a quantia que se pouparia com este meio de transporte.
Para além disto, o relatório referia que a Junta Geral pouparia com estradas que deixariam de ser necessárias, a quantia de 227.620$000 reis: “somando o juro desta quantia 11.381$000 reis à diminuição das despesas com a conservação nas estradas de Ponta Delgada às Furnas e de Ponta Delgada à Ribeira Grande, que se calcula em 1.320$000 reis, e à economia com as despesas da deslocação de pessoal técnico da Junta (500$000 reis), à junta só caberia a despesa de 47.326$830 reis.”
Se fosse hoje, eu acrescentaria que, ainda, teria mais uma vantagem, pois as SCUTs seriam desnecessárias!