Bacana o thread.
Apesar da pobreza e da ausência do estado, admiro muito os nossos ribeirinhos. Outro dia eu havia postado uma notícia no carapa falando de várias atividades econômicas realizadas pelo interior do estado e que são invisíveis e não contabilizada pelo poder público.
Percebe-se que a região é muito rica em palmeiras, principalmente açaí, murumuru, buriti... Essas frutas são muito valorizadas pela indústria de cosmético. O açai então nem se fala. O problema é que não existe organização.
O açaí, por exemplo, é comprado dos ribeirinhos por preços baixos, vai pra Belém onde é consumido e/ou exportado para outros estados/países. Os ribeirinhos pouco ganham com isso. O poder público poderia fomentar a criação de cooperativas para processar as frutas e vender a polpa congelada. Ou mesmo fazer produtos a base de açaí.
A Natura até que desenvolve projetos com várias comunidades rurais do Pará, incluindo muitos da ilha de Marajó que fornecem ativos da biodiversidade. Mas ainda é muito pouco, é um trabalho de formiguinha. Essas comunidades prosperaram e a qualidade de vida elevou.
Eu também já fui a uma comunidade ribeirinha de Muaná quando era bolsista num laboratório de energia renováveis da UFPA. O nome da comunidade é Vila Palheta (Bonita e histórica).
Uma experiência incrível: Saímos direto da UFPA com tudo que precisaríamos para realizar o trabalho na vila. O porto ficava no Jurunas. Pegamos o navio por voltas das 20hs da noite. Navegando pelos furos de Belém, Barcarena, passamos por cairipi... Vimos a beleza do porto de vila do conde iluminado à noite. Íamos avançando a gigantesca baía do Marajó, até que nos aproximamos da outra margem, uma luz de lanterna na escuridão da baía anunciava que tínhamos que descer, era um barquinho com dois homens vindo nos buscar do navio grandão. Colocamos o material no barquinho pequeno E começou a chover e a maré tava agitada.
Tava tudo escuro. Dava um medo em mim. Até que finalmente entramos em um rio e vi a mata fechada. Chegamos a Vila por volta de 1h da madruga. E o melhor, ficamos hospedado num casarão do séc. XIX, lindão, bem nas margens do rio. Ele pertencia a um senhor Português que tinha um engenho bem ao lado do casarão e em baixo tinha os locais onde os escravos ficavam confinados.
Tinham vários quartos, uns já estavam ocupados. Eu e mais dois amigos optamos por dormir na sala principal bem de frente para o rio. Detalhe é que nesse salão havia uma capela cheia de imagem se santo católicos (Era o local onde aconteciam os velórios). Minha rede ficou bem próximo do altar e do corredor grande que ligava esse salão a cozinha. Eu fiquei muito tenso, mas a tempestade que caiu de madrugada me fez logo dormir.
Quando amanheceu e abriram os janelões e eu vi lá de cima o rio bem na porta do casarão, a mangueira na frente, o trapiche e os papagaios sobrevoando a mata eu disse: Estou no paraíso!!
A vila palheta se organiza quase como uma tribo indígena. As casas ficam ao redor de um descampado enorme. Os bois pastam o dia todo por ele e dividem espaços com as garças. No meio também há a igrejinha e um anexo da escola.
A intenção era fazer um levantamento de carga de cada casa já que a comunidade iria receber energia elétrica de três balsas onde estava instalado um sistema híbrido (Biomassa + Solar + Gerador a diesel). Todas as casas eram madeira e quase todos os moradores tinham o básico do básico. A gente conversou com todos... é uma realidade cruel. Só duas famílias tinham melhor condição financeira, a casa de uma professora do município e outra do enfermeiro da comunidade. O resto viviam da pesca e coleta de açaí.
Mas todas as casas, por mais humildes que sejam, eram impecavelmente limpas e todas as pessoas super bem educadas e atenciosas. A escola de lá, tinha vários computadores que estavam parados por que não havia energia elétrica. Alunos de séries maiores, sofriam muito. Quando estávamos lá, havia um professor de português e outro de educação física, eles teriam que lecionar na comunidade 3 meses e passar toda a matéria, após esse tempo viriam outros professores de outras matérias para fazer o mesmo, e assim ia....
Bom, meu presente de lá foi que eu quase perco meu dedão do pé, pois no final da tarde eu pulei do trapiche para tomar banho de rio e decepei meu dedão do pé direito em algum artefato no fundo do rio. Perdi muito sangue. A única coisa que o enfermeiro pode fazer por mim foi limpar, estancar o sangue e fazer o curativo. Não tinha material para ele costurar.
A volta foi mais emocionante ainda. Nós atravessamos a baía do marajó numa rabeta. Muito louco!! Só víamos água pra tudo que é lado!! Depois chegamos as ilhas de abaetetuba, atravessamos por furos, vimos várias comunidades ribeirinhas pelo caminho, muitas curvas, mata densa até que chegamos a sede de abaeté de onde apanhamos o ônibus pra vim pra Belém.
Apesar do acidente eu amei o lugar!! Adorei as pessoas!! Adorei a paisagem! Adorei o casarão!! As ruínas do engenho!! Adorei conhecer parte da história do Marajó!! Adorei o mesão da sala de jantar do casarão e a comida então, tudo muito farto. Tigelas e tigelas de açaí papa batido na hora. Muito camarão....Me perdi!!
Quero voltar um dia!!
Apesar da pobreza e da ausência do estado, admiro muito os nossos ribeirinhos. Outro dia eu havia postado uma notícia no carapa falando de várias atividades econômicas realizadas pelo interior do estado e que são invisíveis e não contabilizada pelo poder público.
Percebe-se que a região é muito rica em palmeiras, principalmente açaí, murumuru, buriti... Essas frutas são muito valorizadas pela indústria de cosmético. O açai então nem se fala. O problema é que não existe organização.
O açaí, por exemplo, é comprado dos ribeirinhos por preços baixos, vai pra Belém onde é consumido e/ou exportado para outros estados/países. Os ribeirinhos pouco ganham com isso. O poder público poderia fomentar a criação de cooperativas para processar as frutas e vender a polpa congelada. Ou mesmo fazer produtos a base de açaí.
A Natura até que desenvolve projetos com várias comunidades rurais do Pará, incluindo muitos da ilha de Marajó que fornecem ativos da biodiversidade. Mas ainda é muito pouco, é um trabalho de formiguinha. Essas comunidades prosperaram e a qualidade de vida elevou.
Eu também já fui a uma comunidade ribeirinha de Muaná quando era bolsista num laboratório de energia renováveis da UFPA. O nome da comunidade é Vila Palheta (Bonita e histórica).
Uma experiência incrível: Saímos direto da UFPA com tudo que precisaríamos para realizar o trabalho na vila. O porto ficava no Jurunas. Pegamos o navio por voltas das 20hs da noite. Navegando pelos furos de Belém, Barcarena, passamos por cairipi... Vimos a beleza do porto de vila do conde iluminado à noite. Íamos avançando a gigantesca baía do Marajó, até que nos aproximamos da outra margem, uma luz de lanterna na escuridão da baía anunciava que tínhamos que descer, era um barquinho com dois homens vindo nos buscar do navio grandão. Colocamos o material no barquinho pequeno E começou a chover e a maré tava agitada.
Tava tudo escuro. Dava um medo em mim. Até que finalmente entramos em um rio e vi a mata fechada. Chegamos a Vila por volta de 1h da madruga. E o melhor, ficamos hospedado num casarão do séc. XIX, lindão, bem nas margens do rio. Ele pertencia a um senhor Português que tinha um engenho bem ao lado do casarão e em baixo tinha os locais onde os escravos ficavam confinados.
Tinham vários quartos, uns já estavam ocupados. Eu e mais dois amigos optamos por dormir na sala principal bem de frente para o rio. Detalhe é que nesse salão havia uma capela cheia de imagem se santo católicos (Era o local onde aconteciam os velórios). Minha rede ficou bem próximo do altar e do corredor grande que ligava esse salão a cozinha. Eu fiquei muito tenso, mas a tempestade que caiu de madrugada me fez logo dormir.
Quando amanheceu e abriram os janelões e eu vi lá de cima o rio bem na porta do casarão, a mangueira na frente, o trapiche e os papagaios sobrevoando a mata eu disse: Estou no paraíso!!
A vila palheta se organiza quase como uma tribo indígena. As casas ficam ao redor de um descampado enorme. Os bois pastam o dia todo por ele e dividem espaços com as garças. No meio também há a igrejinha e um anexo da escola.
A intenção era fazer um levantamento de carga de cada casa já que a comunidade iria receber energia elétrica de três balsas onde estava instalado um sistema híbrido (Biomassa + Solar + Gerador a diesel). Todas as casas eram madeira e quase todos os moradores tinham o básico do básico. A gente conversou com todos... é uma realidade cruel. Só duas famílias tinham melhor condição financeira, a casa de uma professora do município e outra do enfermeiro da comunidade. O resto viviam da pesca e coleta de açaí.
Mas todas as casas, por mais humildes que sejam, eram impecavelmente limpas e todas as pessoas super bem educadas e atenciosas. A escola de lá, tinha vários computadores que estavam parados por que não havia energia elétrica. Alunos de séries maiores, sofriam muito. Quando estávamos lá, havia um professor de português e outro de educação física, eles teriam que lecionar na comunidade 3 meses e passar toda a matéria, após esse tempo viriam outros professores de outras matérias para fazer o mesmo, e assim ia....
Bom, meu presente de lá foi que eu quase perco meu dedão do pé, pois no final da tarde eu pulei do trapiche para tomar banho de rio e decepei meu dedão do pé direito em algum artefato no fundo do rio. Perdi muito sangue. A única coisa que o enfermeiro pode fazer por mim foi limpar, estancar o sangue e fazer o curativo. Não tinha material para ele costurar.
A volta foi mais emocionante ainda. Nós atravessamos a baía do marajó numa rabeta. Muito louco!! Só víamos água pra tudo que é lado!! Depois chegamos as ilhas de abaetetuba, atravessamos por furos, vimos várias comunidades ribeirinhas pelo caminho, muitas curvas, mata densa até que chegamos a sede de abaeté de onde apanhamos o ônibus pra vim pra Belém.
Apesar do acidente eu amei o lugar!! Adorei as pessoas!! Adorei a paisagem! Adorei o casarão!! As ruínas do engenho!! Adorei conhecer parte da história do Marajó!! Adorei o mesão da sala de jantar do casarão e a comida então, tudo muito farto. Tigelas e tigelas de açaí papa batido na hora. Muito camarão....Me perdi!!
Quero voltar um dia!!