No ultimo sábado fui com a família à capital do Uruguai, Montevidéu. Admito que sabia muito pouco sobre o lugar, só conhecia fotos da Plaza de Independencia e de ter uma feição muito próxima à de Buenos Aires. Minha irmã também não sabia muito, comprou de impulso a passagem da Pluna que começara a voar do Galeão, mas depois por motivos de trabalho não pôde ir.
Mas, enfim, com as dicas do Barriga Verde e do Felix Madero, fiz mais ou menos uma lista de lugares aonde queria ir e reservei um hotel bem bacana no Centro, chamado Esplendor Cervantes. Indico fortemente pela qualidade dos serviços, do prédio eclético lindo e dos quartos bem modernos.
Avião da Pluna decolando do Galeão
Logo que chegamos à cidade procuramos um restaurante próximo e calhou irmos a um bem tradicional chamado El Fogón. Seriam quatro dias de parrilladas... e eu sou vegetariano. :lol: O El Fogón não deixou uma boa impressão nem ao meu pai carnívoro (um garçom enrolado pra todas as mesas e pour moi um prato de fetuccine al pesto genovese em que o pesto era composto por alho, nozes e manjericão... separadamente). Mas é o estilo mais relaxado do local, mesmo. Foi uma viagem bem gastronômica, então comentarei essas obesidades.
Centro
No domingo acordamos bem cedinho e fomos andar. A primeira impressão foi da arborização homogênea da cidade. Não sei se é a mesma espécie, mas tive a impressão de ser mapple tree, já que as folhas secas no chão eram pequenas bandeiras do Canadá. Rsrs
Iríamos entrar na Cidade Velha, mas todo o comércio estava fechado... Então, de volta ao Centro.
O Itaú é onipresente na cidade.
Bem, notando que nada estava aberto, mesmo, pedimos uma dica no hotel, e o recepcionista disse que os uruguaios não saem de casa no domingo. Mas sugeriu o shopping ou uma feira livre seguindo a Av. 18 de Julio. Resolvemos ir à feira primeiro.
(homens com vestes islâmicas)
Aleluia!
Sempre que passamos por esse templo da IURD ele estava vazio. Não sei como é o crescimento do neopentecostalismo no Uruguai, mas o país é conhecido como o mais secular, ateu e agnóstico da América Latina. Há muito poucas igrejas e muito mais liberdades civis. Aliás, o nosso “Fica com Deus” é o “Que pase bien” deles. Nossa “Semana Santa” é a “Semana do Turismo” deles, e por aí vai.
(pai botafoguense pediu essa rsrs)
Logo entramos na feira da calle Tristan Navaja. De cara a impressão é a de que todas as lojas estão fechadas porque Montevidéu inteira foi para essa única rua. Eu gostei! Lá há de tudo: filhotes de cachorrinhos, alfajores frescos, incensos, antiguidades, roupas, queijos e salames típicos, discos e livros antigos, enfim.
Confesso que fiquei curioso… O Uruguai foi o primeiro país latino-americano a
legalizar a união civil gay. E esses dois estavam andando com o bebezinho e toda pinta de casal.
Mas de todo modo, só via homens (héteros ou não) com crianças pequenas na rua. Cuidando, mesmo, super carinhosos com os filhos, verdadeiros paizões!
Enfim, depois seguimos por uma rua não muito bonita até o Palácio Legislativo. Tirei menos fotos do que queria, vocês irão notar...
Punta Carretas
Fomos ao Shopping nesse bairro tão elegante. Pena que a rambla (o calçadão deles na orla) não estava muito convidativa para um passeio, o dia frio e nublado. Mas valeu muito a pena, o bairro tem um clima delicioso.
Depois de tanto andar, voltamos ao Centro e fomos comer num restaurante executivo na San José. Um risoto de fungos frescos e secos espetacular e finalmente o vinho de uvas Tannat, tão característico do país. Depois disso compramos umas comidinhas e levamos para os quartos, já cansados. Eu dei uma zapeada nos canais de lá, e como a TV local é cafona. :lol: A abertura do telejornal interminável Telemundo parece ter sido feita nos anos 80. E passariam os próximos dias repercutindo o jogo Nacional x Peñarol, o que me lembrou:
O programa de calouros é cheio de lágrimas. Os cantores choram, os apresentadores choram, os jurados choram, a plateia chora! :lol:
Masss... passam novelas brasileiras AND Chaves e Chapolin Colorado lá!
E, nessa preguiça de turista, ainda conheci a nova paixão da minha vida: a Chef de cozinha argentina Narda Lepes! Que pena que não passam o programa dela aqui... Se alguém souber como assistir, contate-me :v.
No dia seguinte tínhamos certeza de que estaria tudo aberto, afinal era segunda-feira. Então fomos andando pelas ruas do Centro.
(Pocavergoim perto do hotel)
Oh Wait… tudo fechado de novo?! Foi aí que soubemos que era uma espécie de feriadão prolongado no país. Aquela segunda era tipo um ponto facultativo. Felizmente a 18 de Julio estava com o comércio aberto. E foi lá que me perdi na livraria Puro Verso. Livros novos e usados de grande variedade, especialmente de Ciências Humanas. Fiquei apaixonado, mas tive que sair logo. Mas voltaria no dia seguinte...
Tim Maia? :nuts:
Carrinhos como esse bege são bem comuns por ali…
(A Puro Verso da Cidade Velha)
À noite fomos jantar no restaurante Francis, o mais legal da cidade, em Punta Carretas. Demos sorte e chegamos sem ter feito reserva, tudo lá é espetacular, o atendimento, o serviço, o local. E a comida... poucas vezes comi tão bem. Cada sensação e aroma do prato são bem harmonizados, é um orgasmo gastronômico. :v
No dia seguinte me restou fazer compras (passei horas na Puro Verso), arrumar tudo e passear mais um pouco. Mas quase não tirei fotos. Se estivesse sozinho, teria esticado a Pocitos e Boceo, mas meus pais estavam mais atraídos pela boa mesa. Então, só passamos de carro pelas ramblas.
E terminando as gordices, comprei um dos melhores doces que já comi na vida. Uma mousse de doce de leite envolta numa casquinha de chocolate branco sobre uma base de amêndoas. Socorro. Queria trazer, achei que fossem jogar no lixo quando chegasse ao Brasil. Me arrependi! Mas ao menos viemos carregados de Tannat... rs
Posso dizer que adorei Montevidéu. Uma sensação diferente, porque não me senti numa cidade turística (ainda que esteja sempre cheia de brasileiros, sempre muito bem recebidos), mas numa cidade em que gostaria de morar. Realmente me senti em casa. Se esperava uma mini-Buenos Aires, como em geral lhe atribuem os brasileiros, descobri muito, mas muito mais autenticidade naquelas ruas.
Ainda que o ecletismo da arquitetura denuncie o apogeu ao estilo parisiense, a população me pareceu bastante miscigenada. Vi negros, vi loiros, vi índios e morenos, um povo bonito e diverso. E muito gentil, aberto e receptivo.
A questão étnica é ainda mais curiosa pois em todo lugar se vê artesanatos típicos. Confirmei os retratos de gaúchos sobre cavalos ou bebendo mate (algo onipresente nas ruas, com cuias e garrafas térmicas). Mas fiquei extremamente surpreso com a valorização do negro como símbolo nacional: baianinhas, pretos velhos, “Candombes” e batuques em bibelôs, chaveiros e quadros. Imagino que tenha algo a ver com migração do Rio Grande do Sul...
E eles ouvem muita música brasileira por lá.
A moda lá é bastante sóbria e todos usam sapatos de couro, raro ver um par de tênis. Mas são muito elegantes, claro. Eu achei engraçado porque eu teria tudo para dar uma de “o carioca encasacado num país frio”. Mas no primeiro dia saí com um suéter e me deparei com todos os uruguaios vestindo sobretudos e cachecóis. Rsrs.
Enfim, só tenho a falar que amei o país e quero voltar em breve, com mais
tempo, para viver mais o cotidiano da cidade (e também poder entrar nos museus e teatros, o que não consegui pelo azar do feriadão). O sotaque rio-platense é um charme, com seu cantadinho, suas inflexões, o voseo (que eu tentei usar, não sei se certo :lol

.
… E o aeroporto de Carrasco, que conhecia por fotos… Como é lindo e bem mantido. Não é nem questão de fazer um projeto arquitetônico tão grandioso, mas de um mínimo de cuidado com os revestimentos, manutenção e limpeza.
E finalmente peguei o voo de volta da Pluna.
E me
aborreci com as aero-muambeiras mal educadas da empresa.
Mas no pasó nada e chegamos ao Galeão... e senti como se tivéssemos atravessado um portal de volta à União Soviética dos anos 80. Cruzes, como o Galeão é largado, horroroso, com móveis caindo aos pedaços, cheiro de mofo, sujo, quebrado, etc etc etc.
Mas foi sair dali (abordado pelos balcões de táxi :lol) para sentir a brisa morna marítima. Estávamos em casa!
Agradeço os que leram e viram as fotos. Saíram péssimas... a câmera, que já é fraca, passou a viagem toda numa configuração ruim e isso somado à luz do dia nublado tirou a cor das fotos. Mas, enfim, queria ao menos compartilhar a experiência.
E agradeço ao Magoff pela ideia do título. :lol:
(afinal, as duas cidades possuem, ainda que em tempos diferentes, a discussão: É ''rio'' ou ''mar''?

)
Abraços