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Ensaio Crítico Sobre Brasília, Capital da Nação

7412 Views 61 Replies 21 Participants Last post by  Rafael_Rosato

Desventuras de um pedestre na monumentalidade de Brasília.

Que eu saiba existem poucas obras com a carga negativa do livro Cemitério da Esperança, que apresenta uma péssima imagem do Brasil e especificamente de Brasilia. O mais curioso disso é que, embora o livro deixe um gosto amargo na mente do leitor, há pouco nele que deva ser refutado e muito com o que se pode concordar. É interessante que tenha que surgir um estrangeiro para tecer críticas tão contundentes ao país e sua capital. No Brasil, falar mal de Brasília e de seus dois artífices principais é tabu…

Benjamin Moser parece crer que a monumentalidade é sempre negativa em arquitetura e urbanismo, principalmente porque a associa à grande escala e a obras construídas por regimes totalitários. Mas pode-se ver a monumentalidade como algo diferente. Há pelo menos 60 anos a cidade tradicional é entendida como sendo constituída por dois elementos essenciais: o tecido urbano composto pelos edifícios dedicados à moradia, ao trabalho, aos serviços, etc, que representa a maior parte da cidade, e seus monumentos, aqueles edifícios que possuem importância coletiva por representarem as instituições humanas: escolas, igrejas, prédios administrativos, culturais, etc. Esse é um modo de ver o monumental que não o associa com a opressão; pelo contrário, nesse sentido os monumentos ajudam a definir a identidade individual.

O autor parece também se incomodar muito com cidades organizadas de acordo com sistemas formais regulares, muitas vezes derivados de precedentes clássicos. A regularidade e unidade do esquema geral é algo comum nos poucos casos em que se criou cidades do zero (Palmanova, Karlsruhe, Washington, Canberra, Brasília) ou quando tentou-se introduzir ordem e estabelecer conexões em tecidos urbanos medievais (A Roma renascentista, Paris e Bath no século 18, etc) porque é preciso criar uma ordem clara inteligível sobre a qual a cidade possa ir se desenvolvendo. A dinâmica urbana normalmente se encarrega de suavizar a rigidez inicial, coisa que nunca aconteceu em Brasília pois sempre se a considerou uma obra-prima intocável, até o ponto que acabou mumificada pelo tombamento realizado pela UNESCO.

O desenho de Brasília é um hibrido de um esquema geométrico de origem clássica com uma disposição de atividades influenciada pelo pior pensamento urbanístico do modernismo, que pregava a separação física das atividades componentes de uma cidade. O urbanismo de Brasília é em parte a materialização de idéias de um grupo influente de arquitetos modernos, reunidos no chamado CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) que nunca conseguiram entender o que faz uma cidade ter vitalidade, embora quase todos vivessem em capitais européias, que são lições vivas de urbanismo.

O pensamento urbanístico atual coincide sobre um certo número de valores que caracterizam os melhores lugares do mundo, muitos deles com séculos de existência: alta densidade, concentração, mistura de atividades, possibilidade de alcançar a pé as necessidades básicas do ser humano e transporte coletivo de qualidade.

“O problema de Brasília não é o seu tamanho em si, mas sua escala em relação ao ser humano… Desde o chão Brasília é um desastre, pois a escala do pedestre foi ignorada.”​


Brasília é o oposto de tudo isso. É uma cidade espalhada – espacialmente rarefeita – em que as principais atividades estão separadas: vive-se aqui, trabalha-se lá, compra-se acolá. Caminhar em Brasília não faz sentido, a não ser para fazer exercício mas mesmo assim não se tira muito prazer disso porque o cenário muda pouco e não há quase nada para ver. Ao contrário de bairros que podem ser encontrados em todas as principais cidades brasileiras, os térreos em Brasília não oferecem atrações para o caminhante, são áreas sem vida das quais queremos logo fugir.

O problema de Brasília não é o se tamanho em si, mas sua escala em relação ao ser humano. A capital brasileira parece ter sido projetada apenas com a escala maior em mente. Desde o chão Brasília é um desastre, pois a escala do pedestre foi ignorada. Esse abandono da escala humana constitui o que é conhecido entre os urbanistas como “A Síndrome de Brasília”, presente em lugares onde as distâncias entre edifícios são enormes e nada de interessante acontece no nível térreo.

Voltando à imagem anterior, Brasília pode ser descrita como um conjunto de monumentos sem tecido urbano que confira significado a eles. O conjunto de super-quadras não constitui um tecido, pela distância entre os edifícios e o fato de que não se comunicam entre si. Moser está correto ao afirmar que a chance de Brasília tornar-se uma cidade real estaria na sua densificação, na ocupação dos seus gigantescos espaços vazios, mas isso não acontecerá pois a cidade foi congelada como monumento cultural, indo de encontro à dinâmica natural de qualquer cidade, que a leva a transformar-se constantemente. À essa hipotética densificação deveria ser acrescentada a inserção de usos diferentes e complementares nos setores mono-funcionais.

Ao longo do texto, Moser comete um erro muito comum, pois parece acreditar que Oscar Niemeyer é o autor do plano urbanístico de Brasília, sem nunca mencionar seu verdadeiro autor, Lúcio Costa. Niemeyer é o autor dos principais edifícios da cidade, tendo atingido ali o auge da sua carreira, mas não se sabe que tenha tido qualquer influência sobre o projeto de Costa.

Com seu ataque frontal a Brasília e às atitudes mentais que levaram a ela, Moser nos presta um serviço. Se Brasília não pode mais ser salva, que pelo menos sirva de exemplo negativo, impedindo-nos de continuar comentendo os mesmos erros.



Edson Mahfuz é Arquiteto e Professor Titular de Projetos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Peguei este artigo no site Caos Planejado, mas foi publicado originalmente no jornal Zero Hora no dia 29/12/2014 , o livro citado foi Cemitério da Esperança, do escritor e historiador americano Benjamin Moser
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A escala "não humana"citada se resume ao Eixo Monumental que foi feito para grandes eventos e para juntar multidões. Há ciclovias que convidam a um passeio e um projeto de VLT que ajudaria a integrar a região. Também pode-se falar sobre Eixão, mas com as passagens subterrâneas integradas ao metrô, o pedestre vai de um lado ao outro, bem tranquilo (falta o trecho da Asa Norte e terminar algumas na Asa Sul).

Quem diz que "caminhar em Brasília não faz sentido, a não ser para fazer exercício mas mesmo assim não se tira muito prazer disso porque o cenário muda pouco e não há quase nada para ver" não tem a mínima ideia do está falando ou não deve ter nunca pisado em uma quadra residencial / comercial da cidade.

No Plano Piloto tanto as Asas quanto o Sudoeste, Noroeste, Cruzeiro (o Plano "expandido") são regiões bem adequadas e agradáveis à caminhadas. Ou seja a escala "não humana" está mais para exceção do que regra. O que eu mais fiz este ano foi caminhar nas Asas, Sudoeste, Águas Claras... diria que são algumas das regiões mais agradáveis do país para se caminhar.

Falando da cidade como um todo, grande maioria das regiões de Brasília são bem pedonais no seu interior. É uma metrópole dividida em grandes distritos (chamados de Regiões Administrativas), separados por vias expressas e áreas verdes. Andar entre eles é simplesmente desnecessário dado as grandes distâncias, o que seria razoável é pensar nas travessias entre regiões vizinhas.

Há ciclovias e um rede cicloviária em expansão, passarelas e passagens subterrâneas (muitas degradas e/ou insuficientes), e projetos de BRTs nas vias expressas que ajudarão a integrar a cidade e a melhorar as condições de uso dessas passarelas e passagens subterrâneas. Em alguns trechos como entre Águas Claras e Taguatinga e entre Taguatinga e Ceilândia simplesmente não há sequer obstáculos para atravessar de uma para outra caminhando.

Claro, também há regiões de condomínios fechados, setor de clubes e vias expressas (e semi-expressas) entre as regiões, inviáveis para pedestres, mas nada fora do normal. O "anormal" na verdade é que se preserve áreas verdes junto as vias expressas como ocorre com as Estradas Parques de Brasília, deixando a cidade mais agradável.

Interessante pensar que se fosse uma cidade dos EUA, Brasília seria considerada com facilidade uma das mais pedonais e com uma densidade bem maior que a maioria, se não todas, as metrópoles do país.
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Discordo do usuário de cima. Bom, tenho um parente que mora em Brasília, e durante todas as vezes em que estive na capital federal, tive a sensação de que a cidade não é nada agradável para o pedestre (tal qual descrita o artigo). Posso estar errado, afinal, sou 'turista', porém, já andei bastante pela cidade (de carro), e constatei que a cidade é, de maneira geral, pouco densa e bastante espalhada. E a impossibilidade de verticalização e adensamento urbano, junto com os recuos obrigatórios nos pequenas nos edifícios, só piora a situação.
A escala "não humana"citada se resume ao Eixo Monumental que foi feito para juntar multidões.
Discordo dessa parte também, na minha visão, essa escala gigantesca de Brasília, horizontalizada, espalhada, cheia de gramados, áreas distantes, serve exatamente para o contrário de juntar multidões. Para mim, essas são ações para impedir o aglomerado de multidões.

Veja bem, imagine se o Congresso Nacional fosse, seilá, no centro de São Paulo. Imagina o problema que isso seria para a classe política. Agora, se o Congresso Nacional do Brasil fica no centro de uma cidade, cuja região principal é dotada (segundo você mesmo) de uma escala não humana, escala esse que desencoraja ou mesmo inviabiliza o deslocamente ou junção (que não seja previamente combinada) de uma grande multidão, aí as coisas ficam mais seguras para os políticos.
Muito estranho em Brasília áreas enormes sem nada em plena área central e divisões como: setor hoteleiro, setor bancário, setor de clubes...
Discordo do usuário de cima. Bom, tenho um parente que mora em Brasília, e durante todas as vezes em que estive na capital federal, tive a sensação de que a cidade não é nada agradável para o pedestre (tal qual descrita o artigo). Posso estar errado, afinal, sou 'turista', porém, já andei bastante pela cidade (de carro), e constatei que a cidade é, de maneira geral, pouco densa e bastante espalhada. E a impossibilidade de verticalização e adensamento urbano, junto com os recuos obrigatórios nos pequenas nos edifícios, só piora a situação.
Brasília é uma cidade é que os carros passam por "fora" das áreas urbanas, não dá para ter noção de fato. Convido você a um passeio dentro das Asas e de outras Regiões. Se você gosta de parques e de áreas verdes vai adorar caminhar pelas quadras residenciais.

Discordo dessa parte também, na minha visão, essa escala gigantesca de Brasília, horizontalizada, espalhada, cheia de gramados, áreas distantes, serve exatamente para o contrário de juntar multidões. Para mim, essas são ações para impedir o aglomerado de multidões.

Veja bem, imagine se o Congresso Nacional fosse, seilá, no centro de São Paulo. Imagina o problema que isso seria para a classe política. Agora, se o Congresso Nacional do Brasil fica no centro de uma cidade, cuja região principal é dotada (segundo você mesmo) de uma escala não humana, escala esse que desencoraja ou mesmo inviabiliza o deslocamente ou junção (que não seja previamente combinada) de uma grande multidão, aí as coisas ficam mais seguras para os políticos.
Já foi num dia de protesto em Brasília? Aquilo ali simplesmente enche.
Não não só de protestos vive o gramadão do Eixo Monumental, vários eventos com shows e parada Gay ocorrem lá.

A ultima parada Gay andou o Eixo Monumental quase inteiro, da Praça dos Três poderes à entrada do Sudoeste, e a galera foi bem de boa e descendo até o chão. Encheu de gente!

A rodoviária do Plano Piloto fica próxima a esplanada dos ministérios em uns 15 min de caminhada você chega na praça dos Três Poderes, se não quiser andar, a cada minuto tem um ônibus te levando até lá, em 5 min de ônibus você pode para em qualquer ministério.

Sem falar no passeio de bicicleta, todo o Eixo Monumental tem ciclovia, tem uma galera que se diverte passeando por lá, se quiser dá pra alugar também.

As pessoas não entendem que o Eixo Monumental não é a cidade, é parte dela, como o nome diz "Monumental" é uma obra de urbanismo com várias obras de Arquitetura, é uma região especial da cidade, feita para situações especiais e que no cotidiano, com o transporte público, ciclovias e vias largas pode ser facilmente percorrido por quem mora na cidade.
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^^ Te garanto que é mais fácil um morador de Brasília chegar o congresso Nacional do que se fosse em São Paulo.

Seja pelo trânsito, relevo, tamanho das cidades...

Dentro do Plano a mobilidade é muito fácil e pra quem não sabe, foi facilitada a vida de quem quer andar a pé (fora do eixo Monumental), você pode andar 1km sem nem atravessar meia dúzia de ruas pequenas, num caminho cheio de árvores, sombra e jardins.

Percorrer as mesmas distâncias em qualquer outra grande cidade do país, a pé, seria mais dificultoso.
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Eu acho a ideia de Brasilia bem legal, gosto da sua identidade, que eh bem forte e modernista. Isso faz Brasilia uma das unicas cidades no mundo que tem um acervo de arquitetura modernista tao significante.

Porem, acho que precisa de mais centralizacao. O bairro de Aguas Claras tem potencial de se tornar o ''centro'' de Brasilia. Atualmente esta ainda se desenvolvendo, mas acho muito importante adensar mais Aguas Claras para se tornar ''Downtown Brasilia'' fora do Plano Piloto.
A crítica feita pelo autor do livro é bem comum dentro da academia.. Na UnB mesmo vira e mexe tem publicações exatamente com essas críticas, feitas muito antes de um ****** resolver escrever um livro e achar que está reinventando a roda...

Por sinal, esse ******, que não conheço, deve sofrer com os mesmíssimos problemas nos EUA, aonde mora, e deve fazer parte da corrente de urbanistas que tem ojeriza ao urban sprawl. Também acho absolutamente insustentável o modelo de cidade norteamericano e a grande dependência do automóvel que se obriga a ter. Ainda assim, esses problemas citados são muito mais presentes em cidades como Atlanta e Jacksonville do que em Brasília, que tem dezenas de núcleos urbanos que faz com que a dependência com o centro da cidade diminua..

A maior crítica que tenho com Brasília é na segregação espacial que ela possui e como isso influencia sobremaneira nas camadas mais pobres da sociedade. Quem não tem carro, mora longe do metrô, e trabalha no plano piloto em horário comercial, prepare-se pra ver boa parte de sua vida passar no trânsito e ter um acesso a serviços públicos muito mais reduzidos. Se morar no entorno então, nas condições acima, daí ferrou de vez...

A segunda maior crítica que tenho é na aridez e no urbanismo porco de grande parte das regiões administrativas. Não consigo admitir como que Brasília, com um PIB per capita e salários muito maiores do que a média nacional, sendo planejada do zero, tendo um orçamento bem maior do que cidades do mesmo tamanho, completamente plana, tendo uma companhia de planejamento mesmo antes de existir, não consegue ter a melhor infraestrutura urbana do país. Como que pode existir RAs inteiras cujas ruas são canyon com muros de um lado e do outro, estreitas e sem uma mísera árvore. E não falo de ocupações irregulares não...
Como um dentre vários exemplos, cito a Ceilândia, maior RA de Brasília, com mais de 400.000 habitantes (mais do que todo o plano piloto). Foi criada do zero, para alocar classes mais empobrecidas da sociedade (O nome vem de CEI -Companhia de Erradicação de Invasões). Bairros populares não precisam ser bairros urbanisticamente ruins, mas a Ceilândia é... Olha uma rua típica do bairro: https://www.google.com.br/maps/@-15.8105153,-48.095848,3a,75y,45.07h,91.14t/data=!3m6!1e1!3m4!1shxbNVF77V93cnfMNMtf15Q!2e0!7i13312!8i6656?hl=pt-BR
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A crítica feita pelo autor do livro é bem comum dentro da academia.. Na UnB mesmo vira e mexe tem publicações exatamente com essas críticas, feitas muito antes de um ****** resolver escrever um livro e achar que está reinventando a roda...
Só um detalhe, o artigo aí em questão foi feito por um brasileiro (Professor da UFRS). Só que ele cita bastante o livro do tal ******. Aliás, esse autor americano pelo visto escreve bastante sobre o brasil:

(em 15:01 ele lê um trecho de outra obra, citando também Brasília)

Brasília é uma cidade é que os carros passam por "fora" das áreas urbanas, não dá para ter noção de fato. Convido você a um passeio dentro das Asas e de outras Regiões.


Já foi num dia de protesto em Brasília? Aquilo ali simplesmente enche.
Não não só de protestos vive o gramadão do Eixo Monumental, vários eventos com shows e parada Gay ocorrem lá.
Sobre a primeira parte do seu comentário, eu andei majoritariamente de carro pela cidade porque ela não é nada convidativa a se andar a pé. As vezes que me arrisquei, me arrependi profundamente. É como está escrito no artigo. "É uma cidade espalhada – espacialmente rarefeita – em que as principais atividades estão separadas: vive-se aqui, trabalha-se lá, compra-se acolá".

Aqui na minha cidade, por exemplo, no meu bairro, eu não preciso de carro para ir ao banco, ou ao supermercado, para ir em um restaurante, shopping ou cinema. Já em Brasília, esse meu parente que mora aí precisa do carro até para visitar o vizinho no condomínio :lol: (algo bastante tragicômico)

Sobre a segunda parte do seu comentário, vale a parte que está entre parênteses no meu comentário "escala não humana, escala esse que desencoraja ou mesmo inviabiliza o deslocamente ou junção (que não seja previamente combinada) de uma grande multidão"

___

Agora, falando sobre a cidade, se você já visitou outras metrópoles no Brasil, você nota que Brasília tem um ar completamente diferente.

Talvez eu esteja errado - afinal, não sou nativo - e DF seja amigável ao pedestre, mas a impressão que a cidade passa, é o contrário. Veja a imagem abaixo. É como o cara diz no vídeo aí de cima, a escala da pessoa não foi nem considerada, foi eliminada:

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Achei uma crítica muito rasa esse trecho, na verdade...

Tenta-se utilizar uma linguagem poético-crítica para moldar a dinâmica da cidade no sistema de pensamento do autor...

Primeiro que ele resume a cidade e sua dinâmica ao eixo monumental.. No campo do simbólico, os monumentos do eixo efetivamente são os responsáveis por moldar o imaginário de Brasília que o grande público possui. Quando se visita a cidade, é a escala monumental que é enfocada. Quando aparece na mídia, são os velhos clichês que são perpetuados: a cidade sem esquina, a cidade do automóvel, a cidade dos grandes prédios modernistas, a cidade das vias expressas...

Segundo que o autor tem uma tosca ideia da importância da rua e sua relação com o urbanismo de Brasília. No trecho colocado a rua se resume a um espaço de sociabilidade e expressão aos anseios da comunidade, sendo Brasília a negação dessa ideia. Brasília é cheia desses espaços de sociabilidade, as ruas dentro do plano piloto também são lugares cheios de vida, com seu forte comércio e serviços locais, envoltos de grandes áreas verdes. Há eventos de hip hop embaixo de viadutos, blocos de carnaval em ruas do centro, confraternização dos mais diversos grupos nas amplas áreas verdes entre os blocos residenciais, manifestações políticas maiores do que qualquer cidade com seu tamanho no país. Próximo de qualquer residência do plano piloto há um conjunto comercial básico facilmente acessado a pé, mas também de automóvel pelas ruas internas.

O plano piloto em si é uma ilha da fantasia urbanística. Apesar de, realmente, no eixo monumental, qualquer manifestação de 100 mil pessoas parece ser bem menor do que é, diferente de se colocar esse público na Praça da Sé, em SP, Cinelândia, no Rio, ou Plaza de Mayo, em Buenos Aires. E isso, sim, foi um dos pontos pensados na concepção do plano piloto, e é uma crítica que merece ser feita.

Agora, se for pegar Brasília como um todo, aí concordo que é um desastre urbanístico... E me parece que esse autor nem parece lembrar que há algo além do plano piloto, aonde moram mais de 80% da população de Brasília... As críticas, me parece, foram mal direcionadas.
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Sobre a primeira parte do seu comentário, eu andei majoritariamente de carro pela cidade porque ela não é nada convidativa a se andar a pé. As vezes que me arrisquei, me arrependi profundamente. É como está escrito no artigo. "É uma cidade espalhada – espacialmente rarefeita – em que as principais atividades estão separadas: vive-se aqui, trabalha-se lá, compra-se acolá".

Aqui na minha cidade, por exemplo, no meu bairro, eu não preciso de carro para ir ao banco, ou ao supermercado, para ir em um restaurante, shopping ou cinema. Já em Brasília, esse meu parente que mora aí precisa do carro até para visitar o vizinho no condomínio :lol: (algo bastante tragicômico)

Sobre a segunda parte do seu comentário, vale a parte que está entre parênteses no meu comentário "escala não humana, escala esse que desencoraja ou mesmo inviabiliza o deslocamente ou junção (que não seja previamente combinada) de uma grande multidão"

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Agora, falando sobre a cidade, se você já visitou outras metrópoles no Brasil, você nota que Brasília tem um ar completamente diferente.

Talvez eu esteja errado - afinal, não sou nativo - e DF seja amigável ao pedestre, mas a impressão que a cidade passa, é o contrário. Veja a imagem abaixo. É como o cara diz no vídeo aí de cima, a escala da pessoa não foi nem considerada, foi eliminada:

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Não só visitei como morei em outras grandes cidades e sou apaixonado por caminhadas (moro há pouco tempo aqui).

Como ja foi dito dentro de todas as regiões de Brasília você tem acesso fácil a comércios, restaurantes, etc, caminhando.
Mantenho o convite para uma caminhada na cidade, aliás é o que eu sempre faço quando recebo uma visita de fora.

A dificuldade do pedestre aparece quando você tem que passar de uma região a outra. Aí você precisa recorrer ao automóvel, ao transporte público, as ciclovias...

Como já foi dito também. As críticas foram mal direcionadas. A construção de "cidades satélites" (não se usa mais o termo) muito longe do Plano Piloto é um problema muito maior do que a "escala de Brasília" ou até mesmo o "excesso de setorização".

Quem lê o artigo deve ficar até com pena de quem mora no Plano Piloto. Mas na verdade é uma região extremamente valorizada.

Pra quem mora longe, felizmente já existe metrô passando por Ceilândia, Samambaia e Taguatinga (essas três regiões somam 1 milhão de habitantes), além de Águas Claras e Guará. Também tem BRT para o Gama e Santa Maria (duas regiões distantes). Esses meios de transporte facilitam a vida de quem precisa trabalhar no Plano Piloto trabalhar, mas pra outras coisas as pessoas conseguem resolver próximo de onde mora na maioria dos casos.
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Completando, claro que a cidade tem regiões de condomínios horizontais, chácaras, clubes... Mas em muito parte do país, regiões semelhantes são"amigas do pedestre", por definição são áreas de grandes terrenos.

Novamente o vídeo e as fotos postadas querem forçar dizer que a cidade se resume ao Eixo Monumental.

Por fim, é claro que Brasília é diferente, se não se quer seria Patrimônio da Humanidade, foi feita pra isso, tem um ar diferente. Mas isso não quer dizer que as pessoas não consigam andar próximo de onde moram.

A verdade é que a maioria dos brasilienses conseguem com uma caminhada tranquila ir a praças, áreas de convivência, comércio, bares e restaurantes, transporte público.
Acredito que a construção de cidades satélites está diretamente ligado a essa questão abordada na crítica central. Uma cidade inteligente constrói para cima, Brasília, constrói para os lados. Sendo assim, novos moradores - não endinheirados - quando chegam na cidade, são jogados para o raio que o parta.

Só a região aí do eixo monumental, que postei a foto no último post, (claro que teriam que abrir algumas ruas em meio e esses gramados), mas facilmente caberia boa parte da população da cidade em arranha céus. Porém isso é algo inimaginável. A união nunca abriria mão desses terrenos - e nem podem fazer isso - afinal Brasília é uma cidade mumificada.
^^ São tantos assuntos diferentes misturados no mesmo comentário que dificulta.

Fala-se de Brasília como se cada rua que um morador fosse atravessar seria um "Eixo Monumental". E isso é mentira, das grandes. E povoa-lo não tem o mínimo de cabimento e muito menos resolveria 1% dos problemas da cidades.

A verdade é que dentro dos "bairros", Brasília é tão ou mais pedonal que qualquer outra metropole, e ainda com alguns diferenciais positivos. Entre os "bairros" (na verdade regiões, grupos de bairros ou grandes distritos), o uso do transporte individual ou coletivo, ou ciclovias, se faz necessário.

Também não da pra dizer que a cidade é pouco densa. Mas sim que existem muitas áreas verdes ou setores de grandes terrenos que poderiam ser melhor ocupados. Na verdade há um estímulo para que cada região tenha sua densidade adequada ao que foi definido no plano diretor.

Ainda com distâncias grandes se esquece que o tempo percorrido de deslocamento em Brasília não é maior do que os habitantes de outras metrópoles percorrem. Também se esquece que a capital federal é a metrópole com melhor mobilidade no transporte individual e a que possui menos engarrafamentos.

E o adjetivo"mumificada" não cabe a uma metropole que realiza grandes obras, recebe investimentos. Se você está falando o tombamento a discussão é outra.

Sério, difícil conversar com opiniões tão distantes de realidade local. Melhor acreditar nos foristas que moram na cidade: Melhorar Brasília passa principalmente pela revitalização de áreas degradadas e por uma boa rede de transporte público.

Realmente parece que este tópico foi aberto para falar mal de Brasília com argumentos travestidos de "técnicos" mas muito descolados da realidade.
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Eu venderia todos os terrenos inúteis entre os edifícios. Como ali próximo da Esplanada, Alvorada e setor de embaixadas. Mesmo entre os edifícios das superquadras. E abriria mais ruas (mais esquinas, mais pedestres, mais comércio, mais vida), como por exemplo uma rua entre cada mansão das embaixadas (tornariam-se quadras e poderiam ser incorporadas). E integraria os vazios urbanos entre as cidades satélites e regiões.

Vicente Pires, abrindo mais ruas e liberando a construção, tem potencial para ser o Downtown do DF. Estilo BC. Downtown tem que ser estilo BC, estilo Copacabana, estilo Manhattan, não estilo Águas Claras. Tem de ter continuidade ao nível da rua.

Assim Brasília ficaria perfeita.
É óbvio que Brasília não é uma cidade pedonal e está longe de ser. Ela ter áreas pedonais, não a torna pedonal e amigável com o pedestre.

Mas também acho que há um pouco de injustiça com a cidade, principalmente por quem é de fora e não conhece a dinâmica da cidade.

Mas, para o turista, ela sempre vai ser desagradável para andar.


Palmas que é uma cidade inspirada em Brasília também é rodoviarista e pouco pedonal. Da mesma forma, dentro das quadras é que foi pensada a escala para as pessoas. Lógico, Palmas tem uma escala bem menos monumental e por não ser tombada ela vai se adaptando melhor a demanda da população.


Mas o que eu quero dizer é que, entre tantas características, ser pedonal é uma delas. O fato dela não ser pedonal não faz dela, necessariamente, uma cidade ruim.

Tem muita cidade pedonal horrorosa, ruim, desagradável.

Então, mesmo com esse defeito, Brasília é muito melhor pra viver do que algumas outras grandes cidades brasileiras.

Eu mesmo não troco Palmas por qualquer outra cidade por ser pedonal. Há outras características que se pese também para gostar de uma cidade.
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Gente, vocês estão chovendo no molhado. Existem milhões de discussões sobre o urbanismo utópico moderno, que nasce com a Carte de Atenas, de Le Corbusier:

https://en.wikipedia.org/wiki/Athens_Charter
Eu venderia todos os terrenos inúteis entre os edifícios. Como ali próximo da Esplanada, Alvorada e setor de embaixadas. Mesmo entre os edifícios das superquadras. E abriria mais ruas (mais esquinas, mais pedestres, mais comércio, mais vida), como por exemplo uma rua entre cada mansão das embaixadas (tornariam-se quadras e poderiam ser incorporadas). E integraria os vazios urbanos entre as cidades satélites e regiões.

Vicente Pires, abrindo mais ruas e liberando a construção, tem potencial para ser o Downtown do DF. Estilo BC. Downtown tem que ser estilo BC, estilo Copacabana, estilo Manhattan, não estilo Águas Claras. Tem de ter continuidade ao nível da rua.

Assim Brasília ficaria perfeita.
Vicente Pires naaaaaao! No máximo prédios baixinhos.

O Downtown já existe no Eixo Monumental, só precisa de uma revitalização. E o "estilo BC" já tá existe em Águas Claras e com uma eficiência muito melhor BC!

O adensamento do Guará, Parque Sul, Taguatinga, Samambaia e Ceilândia no entorno do metrô são soluções infinitamente melhores, que podem seguir o modelo de Águas Claras, com as devidas adequações.

Outras regiões como o setor policial e o setor militar poderiam ser adensados com residenciais. Mas parece difícil adensar essas regiões.

O Plano também tem potencial para ser adensado nos terrenos vazios, nas quadras 900 e 600 e quem sabe nas entre quadras. Sem falar no Noroeste que ainda está se consolidando e tem muita terra para se expandir. Eu adensaria também as avenidas do Lago Norte e Sul com prédios mistos (comerciais e residenciais) como os do Noroeste.

Na verdade Brasília já ficaria perfeita com VLTs, BRTs e a expansão do Metrô. Além da revitalização das calcadas, e readequação de faixas de pedestre, ciclovias e paisagismo, sem que nem se concretizem esses adensamentos.
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