Arquiteta escolhe quatro espaços públicos de BH e identifica principais características que fizeram com que cidadãos e turistas os elevassem à categoria de ícones da capital
Paulo Henrique Lobato - Estado de Minas
Sentado num banco da Praça da Liberdade, debaixo de uma imponente palmeira imperial, o advogado Marcelo Bittencourt, de 30 anos, observa que o cartão-postal de Belo Horizonte, construído para abrigar o Palácio da Liberdade e suas secretarias, respira, atualmente, mais cultura do que política. A futura transferência da sede do Executivo e de suas secretarias para o centro administrativo, na Região Norte da capital, reforça a nova identidade do espaço público. Perto dali, a pedagoga Angélica Luz, de 52, aprecia, da janela de seu apartamento, a reforma da Praça Raul Soares, que será reaberta ainda em junho. Sua principal característica é o entorno comercial, mas a área, por pouco, não teve outro perfil, o de símbolo do poder municipal. Isso porque a comissão construtora da capital cogitou transformar o local, centro geográfico da cidade, na Praça da Prefeitura.
A mudança de identidade e as atuais características das duas áreas fazem parte da dissertação Espaços públicos como elementos da estruturação urbana. Assinado pela arquiteta Nara Freire Costa e aprovado pelo departamento de mestrado da Universidade Cergy Pontoise, em Paris, o estudo ainda aborda o perfil de outras duas importantes praças de BH: a Sete de Setembro, no Centro nervoso da capital, e a Governador Israel Pinheiro, mais conhecida como Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul. A especialista ainda comparou as quatro áreas com outras tradicionais praças da capital francesa: Beaubourg, Bastille, d’Italie e Carrousel do Louvre.
Essa comparação ocorreu porque Aarão Reis, engenheiro-chefe da comissão que construiu BH, se inspirou na cidade européia para projetar o atual Hipercentro. “Paris havia passado por uma renovação urbana, com a implantação de avenidas largas, áreas verdes no Centro e bulevares”, diz Nara. Ciente desse paralelo, ela se debruçou sobre livros e documentos e foi a campo para levantar a identidade de cada um dos quatro cartões-postais da capital mineira. Para a Praça da Liberdade, cujo conjunto arquitetônico foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) em 1977, o perfil encontrado aponta para o aspecto cultural.
“Esse valor foi agregado ao longo dos anos, com projetos como o da Biblioteca Municipal e do Museu de Mineralogia, que influenciaram o entorno, também cultural e marcado pela abertura de salas de cinema, livrarias etc.”, explica a especialista, ressaltando que o local também atrai muitos turistas. Porém, no estudo, o perfil turístico foi atribuído à Praça do Papa. Isso em razão do grande número de visitantes, principalmente de outros países, que vão ao cartão-postal para serem presenteados com a bela vista da cidade. Encantados, muitos repetem a frase dita pelo papa João Paulo II (1920/2005), em 1980, quando visitou a capital e celebrou missa no local: “Que belo horizonte!”.
“Ele tinha razão. Estive aqui há 10 anos e, desta vez, trouxe dois amigos para verem Belo Horizonte do alto”, diz o engenheiro Agustin Campodonico, de 56, morador de Concepcion, no Chile. Ele aproveitou a vista para uma foto com os colegas Pedro Contreras, de 33, e Pedro Evaristo, de 51, que o acompanham na viagem. Os três incluíram no roteiro o Mercado Central, que já ganhou fama internacional em razão da diversidade e cores de seus produtos. O estabelecimento ajudou a conceituar outra praça estudada pela arquiteta Nara Freire Costa, a Raul Soares. “A sua identidade é o comércio. Podemos concluir que é um fator importante que interfere na apropriação dos espaços públicos e na criação da vizinhança, pois gera socialização. Seja de troca, de venda ou apenas uma forma de negociação. Todo esse aspecto exerce um papel social de convívio”, destaca.
Corre-corre
Já a Praça Sete é marcada pela intensa circulação de pessoas e veículos. “Na realidade, (o espaço físico) não é o de uma praça, mas o de um cruzamento de avenidas – Afonso Pena e a Amazonas – importantes para a cidade. Isso gerou o intenso fluxo de pessoas e veículos. Em conseqüência, se tornou um endereço aberto a qualquer movimentação social e política. Sua centralidade ocorreu em razão da evolução urbana de BH, pois não fazia parte do projeto original de Aarão Reis”, informa a arquiteta, acrescentando que “esses tipos de praças funcionam como meio ou como canalizadores da dinâmica urbana das cidades”.
A arquiteta diz que as praças são uma exceção do tecido urbano e o seu planejamento nas cidades é subordinado aos espaços públicos. “A partir daí, elas são setorizadas, de forma a serem um ponto de comunicação e de articulação da área urbana. São pontos estratégicos, pois, além de gerar todas as qualidades sociais, têm pontos de referências tanto para os moradores vizinhos quanto para os freqüentadores e turistas”, explica Nara.
“A Praça Sete é marcada por um corre-corre danado. Sou de outro tempo, quando havia fícus que davam outra vida à Afonso Pena e as pessoas chegavam nos bondes”, recorda o administrador de imóveis Anivaldo Breda, de 77. Saudosista, ele acrescenta que sua memória é mais uma confirmação de que as grandes cidades estão sempre mudando, como as praças.
Paulo Henrique Lobato - Estado de Minas

Sentado num banco da Praça da Liberdade, debaixo de uma imponente palmeira imperial, o advogado Marcelo Bittencourt, de 30 anos, observa que o cartão-postal de Belo Horizonte, construído para abrigar o Palácio da Liberdade e suas secretarias, respira, atualmente, mais cultura do que política. A futura transferência da sede do Executivo e de suas secretarias para o centro administrativo, na Região Norte da capital, reforça a nova identidade do espaço público. Perto dali, a pedagoga Angélica Luz, de 52, aprecia, da janela de seu apartamento, a reforma da Praça Raul Soares, que será reaberta ainda em junho. Sua principal característica é o entorno comercial, mas a área, por pouco, não teve outro perfil, o de símbolo do poder municipal. Isso porque a comissão construtora da capital cogitou transformar o local, centro geográfico da cidade, na Praça da Prefeitura.
A mudança de identidade e as atuais características das duas áreas fazem parte da dissertação Espaços públicos como elementos da estruturação urbana. Assinado pela arquiteta Nara Freire Costa e aprovado pelo departamento de mestrado da Universidade Cergy Pontoise, em Paris, o estudo ainda aborda o perfil de outras duas importantes praças de BH: a Sete de Setembro, no Centro nervoso da capital, e a Governador Israel Pinheiro, mais conhecida como Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul. A especialista ainda comparou as quatro áreas com outras tradicionais praças da capital francesa: Beaubourg, Bastille, d’Italie e Carrousel do Louvre.
Essa comparação ocorreu porque Aarão Reis, engenheiro-chefe da comissão que construiu BH, se inspirou na cidade européia para projetar o atual Hipercentro. “Paris havia passado por uma renovação urbana, com a implantação de avenidas largas, áreas verdes no Centro e bulevares”, diz Nara. Ciente desse paralelo, ela se debruçou sobre livros e documentos e foi a campo para levantar a identidade de cada um dos quatro cartões-postais da capital mineira. Para a Praça da Liberdade, cujo conjunto arquitetônico foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) em 1977, o perfil encontrado aponta para o aspecto cultural.
“Esse valor foi agregado ao longo dos anos, com projetos como o da Biblioteca Municipal e do Museu de Mineralogia, que influenciaram o entorno, também cultural e marcado pela abertura de salas de cinema, livrarias etc.”, explica a especialista, ressaltando que o local também atrai muitos turistas. Porém, no estudo, o perfil turístico foi atribuído à Praça do Papa. Isso em razão do grande número de visitantes, principalmente de outros países, que vão ao cartão-postal para serem presenteados com a bela vista da cidade. Encantados, muitos repetem a frase dita pelo papa João Paulo II (1920/2005), em 1980, quando visitou a capital e celebrou missa no local: “Que belo horizonte!”.
“Ele tinha razão. Estive aqui há 10 anos e, desta vez, trouxe dois amigos para verem Belo Horizonte do alto”, diz o engenheiro Agustin Campodonico, de 56, morador de Concepcion, no Chile. Ele aproveitou a vista para uma foto com os colegas Pedro Contreras, de 33, e Pedro Evaristo, de 51, que o acompanham na viagem. Os três incluíram no roteiro o Mercado Central, que já ganhou fama internacional em razão da diversidade e cores de seus produtos. O estabelecimento ajudou a conceituar outra praça estudada pela arquiteta Nara Freire Costa, a Raul Soares. “A sua identidade é o comércio. Podemos concluir que é um fator importante que interfere na apropriação dos espaços públicos e na criação da vizinhança, pois gera socialização. Seja de troca, de venda ou apenas uma forma de negociação. Todo esse aspecto exerce um papel social de convívio”, destaca.
Corre-corre
Já a Praça Sete é marcada pela intensa circulação de pessoas e veículos. “Na realidade, (o espaço físico) não é o de uma praça, mas o de um cruzamento de avenidas – Afonso Pena e a Amazonas – importantes para a cidade. Isso gerou o intenso fluxo de pessoas e veículos. Em conseqüência, se tornou um endereço aberto a qualquer movimentação social e política. Sua centralidade ocorreu em razão da evolução urbana de BH, pois não fazia parte do projeto original de Aarão Reis”, informa a arquiteta, acrescentando que “esses tipos de praças funcionam como meio ou como canalizadores da dinâmica urbana das cidades”.
A arquiteta diz que as praças são uma exceção do tecido urbano e o seu planejamento nas cidades é subordinado aos espaços públicos. “A partir daí, elas são setorizadas, de forma a serem um ponto de comunicação e de articulação da área urbana. São pontos estratégicos, pois, além de gerar todas as qualidades sociais, têm pontos de referências tanto para os moradores vizinhos quanto para os freqüentadores e turistas”, explica Nara.
“A Praça Sete é marcada por um corre-corre danado. Sou de outro tempo, quando havia fícus que davam outra vida à Afonso Pena e as pessoas chegavam nos bondes”, recorda o administrador de imóveis Anivaldo Breda, de 77. Saudosista, ele acrescenta que sua memória é mais uma confirmação de que as grandes cidades estão sempre mudando, como as praças.