Domingo 14 de dezembro de 2008 07:59
Prefeito eleito herda impasse da rodoviária
Bianca Melo - Estado de Minas
Beto Novaes/EM/D.A Press
Movimento de veículos no entorno do Tergip chega a 35 mil em apenas uma hora, situação incompatível com proposta da PBH para o Centro: reduzir carros e ônibus na região
Quando ocupar seu gabinete em janeiro, o novo prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), terá em sua lista de compromissos a resolver um assunto que há quase 40 anos assombra a administração municipal: a saída do Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro (Tergip) do Centro da cidade e a transferência da gestão para a iniciativa privada. Em julho, a Prefeitura de BH (PBH) publicou o Decreto nº 13.209 com as diretrizes da concessão formalizada como parceria público-privada (PPP) com duração de 30 anos. A construção, orçada em R$ 12 milhões, seria paga pelo empreendedor, mas o decreto jogou o custo para o caixa da PBH.
A promessa era soltar o edital no segundo semestre, mas o período eleitoral e as discussões pouco consensuais sobre o assunto espinhoso não deixaram a coisa andar e levaram o prefeito Fernando Pimentel (PT) a suspender os trâmites do processo. O terreno escolhido para a mudança, às margens da Via Expressa e perto da estação de metrô no Bairro Calafate, na Região Oeste, fica a três quilômetros do Tergip. Mas a escolha não teve unanimidade e a grande pergunta a ser respondida por Lacerda é: o Calafate é mesmo o melhor local?
Antes de analisar o assunto em detalhes, o prefeito eleito já percebeu uma deficiência: a falta de levantamento atual que indique a direção mais acertada para sediar a rodoviária: “Há duas semanas, pedi um estudo viário completo da região, inclusive com impactos das obras que devem ser feitas e que podem influenciar aquele pedaço”, informou.
Na BHTrans, autarquia municipal responsável pela licitação, ninguém quer falar sobre o tema, tratado como “assunto do próximo governo”.
Mas texto produzido pela assessoria de imprensa confirma que foi na década de 1970 que levantamentos indicaram a necessidade de tirar os passageiros do Centro e levá-los para o Calafate. “De 1970 para cá, a cidade se transformou, o trânsito é outro e, se é para investir em uma nova rodoviária para BH, que levemos em consideração os pontos com saídas mais fáceis”, sustenta a presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil Regional Minas Gerais (IAB-MG), Cláudia Pires. Segundo assessores da BHTrans, em 1994 foi feita nova compilação de dados, mas eles ainda são segredo. Só estarão disponíveis para conhecimento público quando o edital for publicado.
Em viagem ao Sul da Bahia na semana passada, Márcio Lacerda lembrou, em entrevista por telefone ao EM, investimentos que poderiam levar mais pessoas a circular pela Região Oeste: “O assunto da mobilidade deve ser estudado como um todo, considerando, no caso, a expansão prevista do metrô, o programa Corta Caminhos, que ligaria a Pedro II à Avenida Catalão, e a possibilidade de o Bulevar Arrudas chegar até ali, criando corredores de ônibus.”
Os colegas de trabalho Leocrécio Dias Fonseca, de 28 anos, e Tarcísio de Oliveira, de 40, moram em João Monlevade, na Região Central de Minas, e ficam alojados perto do Centro de Belo Horizonte constantemente. Dali, partem para o interior a fim de dar assistência técnica a unidades atendidas pela empresa para a qual trabalham. “É transtorno para o passageiro se a rodoviária sair de onde está, porque aqui é fácil de chegar. Em Monlevade, eles mudaram de endereço há uns três anos e, para ir dos bairros centrais para lá, a gente tem que pegar táxi ou ônibus”, diz Leocrécio.
O prefeito eleito deixa claro que não desistiu de trocar o endereço da rodoviária. “Nosso compromisso é estudar melhor, rever, mas vamos executar.” O terreno no Calafate foi criticado primeiro pelos moradores do entorno, que temem aumento de movimentação que atrapalhe a circulação deles e leve ao estrangulamento de vias, como as avenidas Silva Lobo e Amazonas; depois, por urbanistas e engenheiros especializados. Eles defendem que a área na Região Oeste já deixou de ser o local mais indicado por ter crescido muito com a circulação de motoristas que se dirigem, por exemplo, ao Expominas, no Bairro Gameleira, e à PUC Minas, no Coração Eucarístico.
Motivações
Os argumentos para tirar a grande estação do Centro são muitos, mas a necessidade de melhorar o tráfego na região é o mais forte. Os ônibus que param na rodoviária – somados aos carros e táxis que vão levar e buscar passageiros, aos motoristas em trânsito e aos que vão fazer compras nos shoppings populares próximos – formam uma caravana que chega a 35 mil veículos em apenas uma hora nos dias úteis (considerando o horário de pico entre as 17h45 e as 18h45). É como se metade da população de Três Corações, no Sul de Minas, estivesse reunida no início da Avenida Afonso Pena, cada um sozinho dentro de um carro.
Nos feriados prolongados, o número é acrescido em 10%. “Ali já virou um ponto de monitoramento e preocupação diários e, se quisermos aliviar a circulação na área central, será preciso mesmo resolver a situação da rodoviária”, afirma o assessor da BHTrans Chiquinho Maciel. Em mais de uma ocasião, os representantes da prefeitura disseram também que o terminal onde está não combina com a proposta de revitalização do Centro, que visa a manter os ônibus longe do espaço, dando preferência aos pedestres.
-----------------------------------
Foto de onde seria a NOVA Rodoviária no projeto Original