HIDRELÉTRICA
Novo presidente da Eletronorte se compromete com o empreendimento
BRASÍLIA
THIAGO VILARINS
Da Sucursal
O paraense Jorge Palmeira, que deve tomar na presidência da Eletronorte na próxima terça-feira, enfatizou que a decisão de iniciar as obras da hidrelétrica de Belo Monte, na região do Xingu, é irreversível e merecerá todo o sem empenho. 'É meta nossa fazer Belo Monte. Eu assumo esse compromisso', garantiu Palmeira. Engenheiro elétrico elétrico e funcionário de carreira da empresa, ele reconheceu, em entrevista concedida ao repórter Thiago Vilarins, que há entraves de ordem burocrática e judicial, por causa de questões ambientais que inevitavelmente envolvem projetos do porte da usina que se pretende construir. Mas considera que os entraves serão removidos quando todos se convencerem de que a hidrelétrica é necessária e pode ser construída sem agressão ao meio ambiente. A seguir, a entrevista.
Há intenção de reativar a representação da Eletronorte no Pará?
A nossa idéia é voltar com essa representação, não só no Estado do Pará, mas nos demais Estados do Norte. Para que a gente tenha uma interlocução mais próxima. Essas representações tinham como missão enxergar as demandas sociais dos Estados, fazendo o relacionamento com as entidades, universidades, Assembléia, Câmara Municipal etc. Com o passar dos tempos, saímos da diretoria, em 2002, e essa representação acabou sendo eliminada. Queremos agora voltar com elas.
O senhor fala em ficar mais próximo dos Estados. Então por que não atender a reivindicação de alguns setores e transferir a sede para a região Norte?
Esse estudo já foi feito em 1988 e depois foi repetido por volta de 1997. Há algumas dificuldades de fazer essa transferência. Primeiro, a Eletronorte atua em toda a Amazônia. Nesse caso, vem a questão: por que transferir para Belém e não transferir para Manaus? Então, não só o Estado do Pará, mas outros Estados também reivindicariam. Essa, digamos, é a primeira dificuldade. A segundo é de ordem técnica. Em Brasília, fica o pessoal mais especializado, o pessoal que elabora estudos, projetos, o pessoal normativo. Outra questão é como levar esse pessoal - que é extremamente especializado - de Brasília, sem perder mão-de-obra na transferência, seja para que lugar for. E outra questão é de aspecto logístico. Quando a gente começa a fazer conta, verifica que, para sair de Brasília e chegar a Porto Velho, eu chego direto. Mas para sair de Belém e chegar a Porto Velho, eu tenho que obrigatoriamente passar por Brasília. todos os estudos feitos até hoje concluíram pela manutenção da sede em Brasília.
Ainda existe risco de apagão?
Não, não existe. Mas eu acho importante, antes de mostrar o cenário, mostrar o modelo. No passado, cada empresa federal tinha uma área de concessão: Eletronorte no Norte, Eletrosul no Sul, Chesf no Nordeste etc. O Estado dava a concessão de exploração de qualquer empreendimento, seja elétrico, seja de transmissão nessas áreas. Eletronorte, Eletrosul e Chesf eram responsáveis pela exploração de todos os empreendimentos em cada região. Hoje, o processo é um pouco diferente. Uma usina hidroelétrica pode ser estudada por quem quiser - por exemplo, Belo Monte. A Eletronorte está fazendo os estudos de Belo Monte no Pará. Mas se você pega a usina do rio Madeira, lá em Rondônia, quem está fazendo esses estudos é Furnas. O que acontece hoje? Concluídos esses estudos, a construção daquelas usinas vai a licitação pública. Então, mesmo a Eletronorte tendo feito os estudos de Belo Monte, não quer dizer que a Eletronorte vai ganhar a concessão para explorar Belo Monte. Praticamente ninguém conhece esse novo modelo. Agora, a Eletronorte, como profunda conhecedora da região amazônica, ela tem que preparar e se habilitar para poder fazer os estudos e ganhar as concessões.
A Amazônia é hoje a grande alternativa, uma vez que a capacidade de geração de energia das demais regiões está praticamente exaurida?
Isso mesmo. Mas em questão de energia hidráulica, principalmente. Na região Sudeste está aparecendo muito empreendedor com energia térmica, seja operando com gás natural, gás natural liquefeito, biomassa, biodiesel, eólica. Há muitas outras alternativas que estão sendo encontradas em outras regiões. É lógico que as usinas de grande porte estarão todas na Amazônia. Mas ainda há usinas de pequeno porte, cujas construções são ainda bem numerosas, para disponibilizar venda ao mercado. Esse modelo está bastante diferente. A minha convicção é de que a Eletronorte tem de estar preparada para poder disputar de igual para igual, para conseguir ganhar as concessões e fazer as explorações e vendas da energia desse empreendimento.
Qual a importância para o Brasil da rápida conclusão da Hidrelétrica de Belo Monte?
Belo Monte vai agregar um volume de energia significativo no sistema. E além de agregar esse volume significativo de energia, o custo de energia de Belo Monte é baixo. É um projeto perfeito. Em termos de alagamento, é quase nada comparado a outras usinas. Ao próprio projeto de Belo Monte estão atreladas todas as compensações, mitigações ambientais e sociais. A discussão em torno do projeto tem sido ampla. E à medida que se vai discutindo, outras coisas vão sendo agregadas. Essa é a importância. Além de Belo Monte, a Eletronorte já estuda o Tapajós. Então, dali vão surgir usinas fantásticas. Outras usinas estão inventariadas para ser construídas ao longo do rio Tocantins, do rio Araguaia. E algumas já estão até sendo feitas pela iniciativa privada.
Assim como Belo Monte, grandes projetos de desenvolvimento na Amazônia são barrados por questões ambientais. Além de conhecimento técnico, o senhor vai precisar ter muito jogo de cintura.
É verdade. Estamos passando, no País, por um processo de aprendizagem. Tanto o setor elétrico está aprendendo, porque não pode fazer obra a qualquer custo ambiental. Por outro lado, os órgãos ambientais também estão aprendendo. Há o discurso de que não se pode fazer nenhuma obra por conta das questões ambientais. A gente acaba aprendendo o conjunto.
Qual o seu posicionamento em relação aos constantes entraves do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério Público para o início dessas obras?
Cada um cumpre seu papel. Não só a Eletronorte, mas as empresas de energia do setor elétrico querem fazer as usinas. Por outro lado, há os impedimentos em função das questões ambientais. Quando eu falo em aprendizado, isto não é agora. É o que vem lá de trás. Hoje, por exemplo, não se faz mais uma usina como Tucuruí, que começou na década de 70 e terminou em 80, usando o modelo daquela época. O modelo mudou. As regras foram modificadas em função da própria consciência ambiental que tomou conta não só do Brasil, mas do mundo todo. Então, cada um cumpre seu papel. E só vai se chegar a um bom termo quando se conseguir dar as explicações necessárias aos órgãos ambientais.
Mas afinal, Belo Monte sai ou não sai?
Com certeza. É meta nossa fazer Belo Monte. Eu assumo esse compromisso.
O senhor pretende conversar com a ministra Marina Silva sobre Belo Monte?
Se for preciso, sim. Vamos a todas as instâncias. Na época em que eu era diretor, de 1995 a 2002, o presidente nosso era o dr. José Antônio muniz, que foi o idealista de Belo Monte. Acredito que, inclusive com a ajuda dele, vamos conseguir liberar todos os entraves para Belo Monte sair.
É um jogo complicado?
É. Belo Monte foi lançada bem mais lá atrás, em 1988, mais ou menos Tentou-se fazer uma audiência pública em Belo Monte, e na época a usina era um complexo que se chamava Babaquara e Cararaô. Esses nomes eram gritos de guerra das tribos que viviam ali. E em função dessa audiência pública, participou muita gente de fora. Muitos estrangeiros vieram e nessa época os recursos estrangeiros foram cortados para fazer qualquer investimento nessa obra. Além disso, tivemos de mudar o nome da usina, que virou Belo Monte, porque os índios não queriam que se usasse o nome que para eles era quase sagrado. A viabilização de Belo Monte tem mais tempo - de 1988 para cá. Mas é um projeto que achamos viável economicamente, ambientalmente. E não vamos desistir dele.
Fonte: Portal ORM