Pedro Rocha Franco - Estado de Minas
Tradição ou desenvolvimento: o embate está aberto em Patos de Minas, no Alto Paranaíba, e a primeira etapa foi vencida por quem defende o avanço a qualquer custo. A polêmica foi gerada pela demolição de um casarão histórico pertencente à família de Olegário Maciel, presidente da província de Minas Gerais durante a primeira metade do século passado. O imóvel, que era o mais antigo do município, foi destruído na manhã de terça-feira e dará lugar a um shopping center. No entanto, o promotor de Justiça e curador do patrimônio cultural municipal, José Carlos de Oliveira Campos Júnior, prepara dossiê com fotos e depoimentos para processar o prefeito Antônio do Valle Ramos (PP), sob alegação de improbidade administrativa, com o intuito de responsabilizá-lo penalmente pelo fato. O casarão pertencia ao inventário da cidade e o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico não foi consultado.
A disputa se arrasta há pelo menos quatro anos. Em 2005, o proprietário Miguel Bento Vieira entrou com pedido de demolição na prefeitura. Para evitar a perda de um bem histórico, o Ministério Público solicitou o tombamento provisório ao Conselho Municipal. Com parecer favorável, a promotoria impediu a destruição. Um alvará expedido pelo prefeito segunda-feira mudou o rumo do caso e algumas horas depois o casarão foi derrubado. Segundo o promotor, a atual gestão não se preocupa em preservar a história da cidade e o interesse público tem sido desrespeitado em detrimento de questões privadas. “Antes de qualquer decisão, era preciso ao menos discutir o caso, mas o prefeito agiu como soberano e rasgou uma página da história de Patos”, afirma.
A versão do proprietário do casarão é diferente. Segundo ele, o imóvel estava em péssimas condições e somente para o restauro era preciso investimento de R$ 860 mil. As paredes estavam escoradas por oito estacas de eucalipto e foram encontradas três cobras e 64 escorpiões durante a demolição. “Pelo estado nem chamaria de casarão, aquilo era um casebre velho”, afirma Miguel Bento.
No lugar da casa, o terreno de 2,6 mil metros quadrados ganhará um empreendimento comercial avaliado em R$ 20 milhões. As obras devem começar nos próximos seis meses e, além de lojas, serão feitas duas torres residenciais de 16 andares. Segundo Vieira, serão criados 160 empregos.
Memória
O casarão da Rua Olegário Maciel, 230, no Centro de Patos de Minas, pertenceu à Farnese Dias Maciel, irmão do presidente da província de Minas Gerais de 1924 a 1926. Várias reuniões políticas e administrativas da região eram feitas no local e, em seguida aos resultados eleitorais, pessoas se aglomeravam na frente da casa para comemorar vitórias, principalmente as da família Maciel. Por coincidência, na década de 1990 o imóvel abrigou o projeto do governo estadual Travessia das Gerais, que visava a conservação do patrimônio histórico.
A construção era toda baseada na arquitetura colonial, com traços típicos do Brasil Império, como a técnica em madeira e adobe (pequeno bloco de argamassa, de barro amassado com areia e palha, cortado em forma de tijolo e seco ao Sol) usada nas paredes e as janelas encimalhadas com guilhotinas. Outro detalhe típico da época é a ligeira elevação do piso interno na entrada do lote, demonstração das relações entre classes no período.
Fonte: Estado de Minas – 08/05/2008