Urbanismo Masterplan da Porto Vivo define 36 zonas de intervenção, sendo que apenas seis são prioritárias Ao todo, contam-se 5785 prédios a recuperar e a obra mais cara é a dos Aliados
Recuperar a Baixa do Porto custará mais de 1695 milhões de euros (quase 340 milhões de contos). O Masterplan da Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana, que será apresentado hoje à tarde no átrio da Câmara portuense, delimita 36 áreas de intervenção, prevendo-se a renovação de 5785 edifícios. Contas feitas, a acção mais barata será na envolvente da Rua do Mirante, com um custo de 4,22 milhões de euros, enquanto o eixo Aliados/Liberdade obrigará a dispender 128,1 milhões para recuperar 116 imóveis.
Esta é uma das seis áreas de intervenção prioritária da sociedade, que seleccionou ainda as envolventes da Praça da República e de Carlos Alberto e os eixos Mouzinho/Flores, Poveiros/São Lázaro e Sousa Viterbo/Infante (ver infográfico). As intervenções serão programadas e executadas faseadamente, recorrendo à medida urbana do quarteirão. Assim, acontecerá no Infante e em Carlos Alberto, que têm planos de acção para dois quarteirões (de 9 e de 30 prédios, respectivamente) aprovados pela autarquia. O pontapé-de-saída será em Carlos Alberto. A obra deverá começar no fim de Junho.
As estimativas de custo, indicado no Masterplan, a que o JN teve acesso, incluem a reabilitação da totalidade dos edifícios degradados e dos espaços públicos. Nas 36 zonas a requalificar, mais de 1587 milhões de euros serão aplicados na renovação do património edificado e 108 milhões servem para beneficiar as ruas e as praças com a filosofia de libertar a superfície do estacionamento (a opção preferencial é enterrá-lo, servindo as empresas e os moradores, mas também criar parques periféricos à Baixa, que funcionam como interfaces) e privilegiar o peão, os transportes públicos e, sempre que for possível, rasgar canais para as biclicletas e as trotinetas eléctricas. A iluminação e a rede de infra-estruturas deverão ser modernizadas.
A Porto Vivo calcula que as recuperações do edificado mais dispendiosas serão nos eixos Aliados/Liberdade e Sousa Viterbo/Infante, na República e nos Pedreiros (93,7 milhões de euros). No extremo oposto, encontram-se as acções na envolvente à Rua do Mirante, nas Almas (8,36 milhões), em Belomonte (9,49 milhões) e em D. João I (11,88 milhões). Quanto aos melhoramentos ao nível do espaço público, a factura mais alta será a de Sousa Viterbo/Infante (8,71 milhões), enquanto a mais baixa será a da zona das Almas (28,2 milhões).
Tudo para trazer novas famílias e inverter o êxodo da cidade para os concelhos periféricos, nos últimos 25 anos. O público-alvo varia consoante as zonas e tipologias existentes. Os T0 e T1 poderão ser apelativos a jovens licenciados ou em início de carreira, com elevado poder económico. Já os T2 e T3 destinam-se a casais jovens sem descendência ou só com um filho e, ainda, população de meia idade, que pretende regressar à Baixa. Segundo o documento, a maioria dos imóveis da Baixa permite tipologias T4 ou superiores adequadas a casais com dois ou mais filhos, que procurem estabilidade e ambicionem instalar-se no centro a longo prazo. Além do comércio de proximidade, estes residentes exigem a criação de uma rede de serviços imprescindível à vida familiar.
Avenida da Ponte com comércio, hotelaria e habitação
O Masterplan para a revitalização urbana e social da Baixa do Porto define cinco acções estratégicas para o sucesso da intervenção da Porto Vivo. A Avenida da Ponte é a quinta numa lista que inclui a criação de um Parque da Ciência e Inovação e a recuperação do mercado do Bolhão, da frente ribeirinha e da linha do eléctrico histórico. No estudo, refere-se o potencial desta avenida, transformada pela linha de metro enterrada, para ganhar nova vida, acolhendo habitação, comércio qualificado, serviços, estacionamento e hotelaria. A importância reside na possível articulação com Gaia, a poucos passos. Esta proposta colide com o desenho do arquitecto Álvaro Siza para a artéria, que prevê a construção de 48 habitações e de lojas comerciais na avenida e na Rua de S. Sebastião e de um parque de estacionamento para 370 viaturas, mas não defendia a introdução de unidades hoteleiras. A peça fundamental do estudo prévio, rejeitado pelo anterior Executivo, era o Museu da Cidade.
Cais fluviais no Douro e ponte pedonal entre as duas ribeiras
A frente ribeirinha é classificada como área de acção especial da Porto Vivo. O potencial turístico e de lazer merece a atenção no Masterplan. Então, aposta-se no desenvolvimento de cais turísticos, no comércio de qualidade elevada e nos estabelecimentos de animação e de actividades lúdicas. Para que as ribeiras de Gaia e do Porto se complementem, os especialistas defendem a construção de uma ponte pedonal à cota baixa entre a zona ribeirinha de Gaia e a Alfândega do Porto. Seria um trunfo importante para a cidade, que poderia aproveitar melhor o turismo das caves do vinho do Porto. Outro trunfo são as festas populares. O Masterplan determina o renascimento das tradicionais romarias. Uma mais-valia cultural e outra forma de divertir o visitante. O expoente máximo é o S. João, mas há outras festas animadas, como a de S. Pedro, a da Senhora do Ó, a da Nossa Senhora de Campanhã, o Corpo de Deus e a romaria de S. Bartolomeu.
Centro de ciência e inovação na área do Campo 24 de Agosto
O Masterplan afasta-se dos pólos universitários e indica as áreas do Campo 24 de Agosto, do Monte das Feiticeiras, das Doze Casas, da Fontinha e da Cooperativa dos Pedreiros para a instalação de indústrias e de pequenas e médias empresas de novas tecnologias, de ciência (saúde, energia e ambiente) e de criatividade, como o design, em parceria com a Universidade do Porto e outros estabelecimentos de ensino da cidade. Assim, nasce o Parque da Ciência e Inovação. Já no Campo 24 de Agosto, a reabilitação poderá gerar o "Palácio das Ciências - Centro do Futuro", com espaços reservados à prática laboratorial e à investigação, com um auditório (com a capacidade mínima para 250 pessoas) para apresentação de trabalhos académicos e realização de conferências. Para que não se feche à sociedade universitária, teria outros espaços, como cafetaria, sala de exposições e livraria.
Mercado do Bolhão aberto à animação diurna e nocturna
A reconversão do Bolhão tem surgido como uma das prioridades da Porto Vivo e merece uma atenção especial no Masterplan. Sem perder a vocação de mercado, a vontade é de trazer mais valências para o espaço, encarando-o como um "fórum". Seria uma área semi-aberta para convidar as pessoas a entrarem e atravessarem o mercado. Este "fórum" acolheria outras lojas, uma praça de alimentação e, em condições ideais, também estabelecimentos a funcionar fora de horas. Passaria a ser um ponto de encontro igualmente à noite. A preocupação com o comércio não acaba aqui. Além de Santa Catarina e de Cedofeita, o documento prevê a expansão de um novo tipo de comércio (como o que está a nascer junto ao Mercado Ferreira Borges) e o desenvolvimento de zonas comerciais temáticas, como os alfarrabistas e as livrarias, o artesanato ou as antiguidades. Regista-se, ainda, a ambição de querer instituir uma gestão integrada em algumas zonas, que permitiria uma promoção mais eficaz.
Retorno dos eléctricos e ligação de metro ao Campo Alegre
O regresso dos eléctricos à Baixa e a criação de uma nova linha do metro entre o Campo Alegre e o Campo 24 de Agosto são duas das medidas para melhorar a mobilidade no centro da cidade, que são referenciadas no Masterplan para a revitalização urbana da Baixa.
A qualidade de vida também se define numa maior oferta de transportes públicos, na tentativa de inverter o actual peso excessivo do automóvel no Porto. Não servirá só os residentes, mas também para os visitantes e os turistas. No documento, o regresso do eléctrico histórico à Baixa, aproximando a Praça dos Leões da Praça da Batalha (mantendo, ainda, a ligação na zona ribeirinha), serve os futuros residentes nessas zonas e, sobretudo, quem se desloca à cidade para fazer compras.
As duas grandes áreas comerciais, Cedofeita e Santa Catarina, beneficiaram de uma ligação directa mais confortável do que cruzar a pé os declives das ruas de 31 de Janeiro, dos Clérigos e das Carmelitas.
O eléctrico não invalida o reforço do metro. No Masterplan, realça-se a importância de uma nova linha transversal. Ligaria o eixo do Campo 24 de Agosto e das Doze Casas, à Baixa (Aliados e Trindade) e ao pólo universitário no Palácio de Cristal e no Campo Alegre. Aponta-se a possibilidade de estender esse percurso do metropolitano até Serralves, que é um pólo cultural importante do Porto.
fonte:
JN