Recife de Antigamente

Espero que um dia criem "a máquina do tempo". Recife será o primeiro destino que desejo voltar no tempo. Recife tem uma beleza inigualável e cheia de referência. Os rios e as pontes remetem a cidades europeias. Belíssimas imagens. Parabéns pela seleção.

Parece que do conjunto de prédios da praça do Marco Zero, o único que foi demolido era lindo. Atualmente, está lá um prédio moderno e meio redondo em vidro opaco que não sei o nome.

Quanto as vestimentas!! Gente!! São outros tempos!!Acredito que um homem sair pelo centro do Recife de camiseta era "um extraterrestre" ou uma mulher com uma calça justa seria "puta". São outros comportamentos, outra cultura e pelo que vemos tem tendências fortemente europeias, o que não passa de "moda", até porque as roupas eram mesmo mais densas, entretanto sóbrias.

Mas, no Recife também sentimos frio em certos período do ano, só não sei se naquela época o inverno era mais rigoroso. Mas, analisem as foto pelo contexto de uma época, não pelo que vemos hoje.

Calma pessoal. É realmente interessante essa questão das roupas mas notem que à época o Brasil não tinha passado pelo movimento do tropicalismo, portanto até mesmo a nossa moda era importada da Europa. Não era questão de ser chique ou não era questão de costume da época. E não era somente no Recife, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em diversas cidades do Brasil da época, a maioria quente, o povo se vestia assim.

Mas o objetivo do tópico não é focar na vestimenta das pessoas. Tanta coisa linda em termos arquitetônicos e a pessoa se preocupar com a roupa que pessoas dos séculos XIX e início do século XX usavam é de um simplismo que, isso sim, me deixa assustado.

Vamos apreciar o que deve ser apreciado! As pessoas se vestiam, a meu ver, muito bem naquela época. E minha avó sempre me disse que não se sentia calor. O Clima do Recife era outro, bem mais ameno. Tanto no Recife quanto no interior do Estado. Inclusive foi nessa época que Recife bateu sua temperatura mínima histórica (Acho que 15 graus) e segundo a minha avó quase todas as manhãs o centro da Cidade amanhecia com uma bruma de névoa. Não sei a razão para que o Clima tenha mudado tanto mas não é a única pessoa de idade que me diz que no passado o Recife e o Brasil como um todo eram mais frios.

Vou postar mais fotos para que se esqueçam dessa história de roupas. E não se preocupe amigo Mr Falcon, as pessoas da época não passavam calor porque as pessoas que vivem aqui são acostumadas com o clima quente. Não fosse por isso não existiriam homens engravatados e de paletó nos centros comerciais do Recife de hoje. Além do mais o Recife é uma cidade costeira. As temperaturas variam pouco ao longo do ano e dificilmente ficam acima de 31ºC no verão e abaixo de 22ºC no inverno.

Regata no Capibaribe em 1922. Foto da Revista da Cidade em 1927



Rua da Imperatriz em 1910



Rua dos Judeus em 1930



Praça de Casa Forte - Sem Data



Onde está esse Bonde que não chega? Pessoas reclamando da demora do Bonde na Revista da Cidade em 1926



Avenida Alfredo Lisboa em 1910



Rua Nova em 1880.


A Rua Nova em 1910 e o Hotel Central.



Praça Rio Branco, atual Marco Zero, ano de 1900


Matriz do Corpo Santo, Construída em 1609 foi demolida para dar lugar ao Cais do Porto do Recife em 1914


Recife aos fins do Século XIX



Avenida Marquês de Olinda, Recife. Idos de 1900



Rua da Hora, Espinheiro - Recife. Revista da Cidade em 1928




Avenida do Riachuelo em 1920



Recife em 1910



Praça da Independência em 1912


Praça do Marco Zero em 1926 e em 2010


Rua do Bode, atual Rua do Bom Jesus em 1880


Praça do Marco Zero em 1930. Ambos os prédios não existem mais.



Recife em 1955. Foto do Museu da Cidade.



Praça Maciel Pinheiro - Recife, ano aproximado de 1905. Museu da Cidade do Recife.



Oficina de Trens da Via Férrea do São Francisco. Ano de 1890. Foto do Acerco de Carlos Dubeux, Museu da Cidade do Recife.



Dubeux fundou a Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos e registrou construções da Via Férrea do São Francisco, garagens, pontes e oficinas. Na foto inauguração de Trem montado no final do Século XIX



Rua da Imperatriz, Bairro do Recife em 1910


Praça do Arsenal. Ano de 1904, quando da sua inauguração.



Rua Formosa, atual Avenida Conde da Boa Vista em 1943


Praça da Independência. A Data correta é 1902


Cais da Alfândega. Anos de 1880



Rua Primeiro de Março, antiga Rua do Crespo em 1921.




Horto dos Dois Irmãos, que posteriormente deu origem ao Bairro de Dois Irmãos. Recife em 1916.



Rua do Sol e seus jardins em 1914.




Praça Maciel Pinheiro em 1875



Rua da Aurora, Bairro da Boa Vista. Em 1952

O prédio da Alepe existe desde 1875 na Rua da Aurora. Aquela região central foi a primeira a possuir energia elétrica na Cidade. Nessa época as lâmpadas que iluminavam o Recife funcionavam a gás.

Era o Recife dos poetas. Como o poema abaixo de Emanuel Bandeira:

Evocação do Recife

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
- Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão

(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
- Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
- Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô