Equipamento urbano que projetou Curitiba na década de 90 é repensado pela prefeitura: não vai mais funcionar o dia inteiro e arquitetura sofrerá mudanças.
A Rua 24 horas não será mais 24 horas e deve ter a estrutura de metal retirada para sua construção com outro material. Essas são as duas certezas da prefeitura de Curitiba para um dos principais cartões-postais da cidade até o momento, desde que foi fechado para reformas em setembro de 2007. Desde então, passaram-se duas licitações – sem que nenhuma se concretizasse por falta de interessados – e a via se tornou um mocó, habitado por moradores em situação de rua e com as antigas lojas usadas para consumo de drogas e outras atividades ilícitas. O abandono colaborou para a falta de segurança pública de um dos antigos marcos urbanos da cidade.
Há 18 anos, Curitiba praticamente não funcionava depois das 21 horas. Era quase impossível encontrar restaurantes, mercados ou livrarias abertos. Atualmente, os shoppings e supermercados 24 horas suprem essa carência. Por esse motivo, interessa à prefeitura alterar o comércio daquele espaço. Antes disso, porém, é necessário reformar a via. A Urbs, gestora do espaço, diz aguardar o projeto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para modificar em primeiro lugar a nova cobertura. Também não se sabe o tipo de material a ser usado. A certeza é que será translúcido e de manutenção mais simples do que o anterior.
Construída em 1991, a Rua 24 Horas foi criada na esteira da Ópera de Arame e do Jardim Botânico. Por esse motivo, nos 120 metros de extensão por 12 de largura foram usados 32 arcos em estrutura metálica tubular, uma das marcas da arquitetura da cidade – reproduzida, por exemplo, nas estações-tubo. Em sua época áurea, abrigou 34 lojas de perfil distinto. Atualmente, não consegue repetir nem mesmo o ritmo de passantes antigos. Eliandra Araújo, proprietária da Casa do Relógio, localizada em uma das entradas da rua, argumenta que as pessoas evitam transitar por ali. “Atraiu muita gente perigosa”, constata.
De acordo com Eliandra, o atual estado da Rua 24 Horas é prato cheio para os usuários de drogas e para a população que vive na rua. “Eles sobem nos mezaninos e usam como ponto de consumo de drogas e também como banheiro”, conta. Eliandra relata que há cerca de três semanas, quando uma onda de calor atingiu Curitiba, o cheiro era insuportável. Gerente da X-treme Games, situada na Visconde de Nácar, Célia dos Santos reclama da mudança de perfil dos frequentadores. “Aumentou o fluxo de usuários de drogas. E também cresceram os assaltos, uma loja vizinha já foi assaltada duas vezes desde que a Rua 24 Horas fechou”, diz.
Fiscalização
De acordo com a prefeitura de Curitiba, a via permanece totalmente fechada das 19 às 7 horas diariamente. E a Rua 24 Horas integra a fiscalização da Região Central, sofrendo ronda permanente durante o dia. Nas noites, uma empresa privada foi contratada, há dez dias, para rondar o espaço. Os atos, contudo, podem não surtir efeito. Semana passada, por exemplo, a reportagem se deparou à tarde com usuários de crack trancafiados numa das antigas lojas.
Proprietário da revistaria e internet 24 horas, Roberto Amaral afirma que, apesar das transformações da cidade e da via, a Rua 24 horas segue com apelo. “Ela foi se transformando, foi se modificando. Mas continua atraindo muita gente, especialmente os turistas”, diz. “É um local muito bom para o comércio”.
Os comerciantes da região são unânimes em afirmar que o fechamento da Rua 24 Horas afetou o comércio local. Eliandra Araújo e Roberto Amaral dizem que as lojas vendem 40% menos desde setembro de 2007. “Fizemos uma freguesia nos 18 anos em que estamos aqui. E estamos sobrevivendo por essas pessoas. Perdemos muitos daqueles clientes de momento, que estavam passando e compravam”, diz Amaral. Célia dos Santos afirma que a loja investiu em outros meios para recuperar a clientela. “Como o movimento caiu, aumentamos a divulgação e as promoções para manter os rendimentos”, afirma.
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