Joined
·
196,571 Posts
Arqueólogos procuram uma cidade pré-romana no concelho de Estremoz
26.07.2008, Maria Antónia Zacarias
A existência de um aglomerado daquele período está praticamente confirmada. Os especialistas procuram agora confirmar se esses vestígios são de uma importante cidade
Dois arqueólogos e dez estudantes de arqueologia de universidades portuguesas e inglesas confirmaram nas últimas semanas a existência, junto a Évora Monte, concelho de Estremoz, de vestígios de uma povoação que poderá ter sido a maior cidade pré-romana de todo o Sudoeste da Península Ibérica, conhecida pelo nome de Dipo.
As escavações em curso visam confirmar a tese, sustentada por alguns arqueólogos, de que Dipo se situaria naquele local, uma vez que, de acordo com fontes clássicas, esta urbe estaria localizada algures entre a cidade romana de Évora e Mérida, mas mais perto da cidade portuguesa. Ao fim de quase um mês de trabalho, o arqueólogo responsável pela investigação, Rui Mataloto, do Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa, disse ao PÚBLICO que "parece quase inegável" a existência de um grande aglomerado populacional da Idade do Ferro, do período pré-romano, nas proximidades das muralhas medievais do Castelo de Évora Monte. A afirmação é sustentada, sobretudo, pelos fragmentos de diferentes objectos que já haviam sido encontrados por um outro arqueólogo, há cerca de dois anos.
"Ao longo deste mês de escavações surgiram indícios de estruturas, construções e materiais que confirmam a existência de uma povoação, durante o século primeiro a.C, isto é, em plena época pré-romana", afirmou o arqueólogo responsável pelo projecto. O investigador referiu-se igualmente a outros achados que apontam nesse sentido, tais como cerâmicas do quotidiano - vasos de cozinha, potes de grandes dimensões utilizados para armazenagem de cereais, água e frutos secos -, e alguma cerâmica de importação itálica que, por norma, "está associada ao início da presença romana".
Entre os vestígios descobertos, Rui Mataloto realçou a presença de pedaços de asas de ânforas, que "eram grandes contentores onde se transportava o vinho nos barcos", bem como alguns elementos de decoração, incluindo contas de vidro "que as mulheres utilizavam nos seus colares".
Embora este arqueólogo saliente a relevância dos achados, reconhece que ainda falta confirmar se no cerro de Évora Monte - onde em 1834 foi assinado o tratado de que pôs fim à guerra entre liberais e absolutistas - se localizou mesmo a cidade de Dipo. Entre os seus projectos para os próximos anos, acrescentou, encontra-se a continuação do trabalho no local, de modo a conseguir esclarecer se a cidade romana existiu mesmo ali. "Se tal fosse conseguido, isso seria muito benéfico para dar maior valor à História de Portugal e a todo o concelho de Estremoz, ficando a vila de Évora Monte a ganhar com novos pontos de interesse, atraindo assim mais visitantes", sublinhou. Rui Mataloto defendeu a criação no local de uma pequena área musealizada, passível de ser visitada pelos turistas, os quais receberiam as devidas explicações sobre o significado dos vestígios.
O investigador assegurou ainda que, depois de concluída esta fase das escavações, irá efectuar, juntamente com a arqueóloga Catarina Alves, que tem estado também a participar nos trabalhos, uma análise mais aprofundada sobre tudo o que foi encontrado. Os resultados preliminares desse estudo serão apresentados no dia 7 de Setembro no Castelo de Évora Monte.
As escavações que estão a ser realizadas perto da Ermida de Santa Margarida e terminam no fim deste mês resultam de um protocolo estabelecido entre a Câmara de Estremoz e a Associação PortAnta, que teve por base uma proposta da Liga dos Amigos do Castelo de Évora Monte. Os trabalhos contam ainda com o apoio logístico da Junta de Freguesia de Évora Monte e da Misericórdia local.
Público
26.07.2008, Maria Antónia Zacarias
A existência de um aglomerado daquele período está praticamente confirmada. Os especialistas procuram agora confirmar se esses vestígios são de uma importante cidade
Dois arqueólogos e dez estudantes de arqueologia de universidades portuguesas e inglesas confirmaram nas últimas semanas a existência, junto a Évora Monte, concelho de Estremoz, de vestígios de uma povoação que poderá ter sido a maior cidade pré-romana de todo o Sudoeste da Península Ibérica, conhecida pelo nome de Dipo.
As escavações em curso visam confirmar a tese, sustentada por alguns arqueólogos, de que Dipo se situaria naquele local, uma vez que, de acordo com fontes clássicas, esta urbe estaria localizada algures entre a cidade romana de Évora e Mérida, mas mais perto da cidade portuguesa. Ao fim de quase um mês de trabalho, o arqueólogo responsável pela investigação, Rui Mataloto, do Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa, disse ao PÚBLICO que "parece quase inegável" a existência de um grande aglomerado populacional da Idade do Ferro, do período pré-romano, nas proximidades das muralhas medievais do Castelo de Évora Monte. A afirmação é sustentada, sobretudo, pelos fragmentos de diferentes objectos que já haviam sido encontrados por um outro arqueólogo, há cerca de dois anos.
"Ao longo deste mês de escavações surgiram indícios de estruturas, construções e materiais que confirmam a existência de uma povoação, durante o século primeiro a.C, isto é, em plena época pré-romana", afirmou o arqueólogo responsável pelo projecto. O investigador referiu-se igualmente a outros achados que apontam nesse sentido, tais como cerâmicas do quotidiano - vasos de cozinha, potes de grandes dimensões utilizados para armazenagem de cereais, água e frutos secos -, e alguma cerâmica de importação itálica que, por norma, "está associada ao início da presença romana".
Entre os vestígios descobertos, Rui Mataloto realçou a presença de pedaços de asas de ânforas, que "eram grandes contentores onde se transportava o vinho nos barcos", bem como alguns elementos de decoração, incluindo contas de vidro "que as mulheres utilizavam nos seus colares".
Embora este arqueólogo saliente a relevância dos achados, reconhece que ainda falta confirmar se no cerro de Évora Monte - onde em 1834 foi assinado o tratado de que pôs fim à guerra entre liberais e absolutistas - se localizou mesmo a cidade de Dipo. Entre os seus projectos para os próximos anos, acrescentou, encontra-se a continuação do trabalho no local, de modo a conseguir esclarecer se a cidade romana existiu mesmo ali. "Se tal fosse conseguido, isso seria muito benéfico para dar maior valor à História de Portugal e a todo o concelho de Estremoz, ficando a vila de Évora Monte a ganhar com novos pontos de interesse, atraindo assim mais visitantes", sublinhou. Rui Mataloto defendeu a criação no local de uma pequena área musealizada, passível de ser visitada pelos turistas, os quais receberiam as devidas explicações sobre o significado dos vestígios.
O investigador assegurou ainda que, depois de concluída esta fase das escavações, irá efectuar, juntamente com a arqueóloga Catarina Alves, que tem estado também a participar nos trabalhos, uma análise mais aprofundada sobre tudo o que foi encontrado. Os resultados preliminares desse estudo serão apresentados no dia 7 de Setembro no Castelo de Évora Monte.
As escavações que estão a ser realizadas perto da Ermida de Santa Margarida e terminam no fim deste mês resultam de um protocolo estabelecido entre a Câmara de Estremoz e a Associação PortAnta, que teve por base uma proposta da Liga dos Amigos do Castelo de Évora Monte. Os trabalhos contam ainda com o apoio logístico da Junta de Freguesia de Évora Monte e da Misericórdia local.
Público