Inaugurada há 65 anos, rodovia Anchieta se transforma em grande avenida congestionada
A via Anchieta, 65, se transformou em uma extensa avenida, com tráfego intenso, constantes congestionamentos e como saída ou acesso dos centros das cidades que corta. A rodovia passou a ser utilizada como uma rua comum por motoristas que trafegam dentro dos municípios de São Paulo, São Bernardo e Diadema.
Inaugurada em 22 de abril de 1947, a estrada foi construída com o objetivo de ligar a capital paulista ao Porto de Santos. A rodovia é considerada o maior corredor de exportação da América Latina.
Diariamente, cerca de 42.500 veículos percorrem a região chamada de Planalto Anchieta, que vai do km 10 ao km 29. Segundo a Ecovias, concessionária que administra a via, o congestionamento se deve ao excesso de veículos no acesso a pontos das cidades da região do ABC paulista e de São Paulo, que utilizam as alças de acesso para chegar aos bairros.
De acordo com a Ecovias, o congestionamento nos dias úteis ocorre em dois períodos: das 7h às 10h e das 17h às 19h. No sentido São Paulo, o trecho mais afetado fica entre o km 13 e o km 10. Já no sentido litoral, o ponto de tráfego mais intenso é do km 14 ao km 16 e no km 18, que dão acesso ao corredor ABD, à avenida Piraporinha, em Diadema, e à avenida Lions, em São Bernardo.
A empresa não acredita que a ampliação das pistas ou criação de novas faixas reduziria as filas que se tornaram comuns, principalmente de manhã e à tarde, uma vez que a origem dos congestionamentos, segundo a Ecovias, está dentro da área urbana.
Mas, para o engenheiro civil Creso de Franco Peixoto, o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) pode ser uma alternativa para amenizar os problemas. “O VLT poderia ser associado a outro sistema de integração com o metrô, do tipo BRT, sistema de transporte com linhas exclusivas que garantem uma maior agilidade”, disse.
Peixoto prevê a implantação de pedágios no futuro como alternativa para aliviar o trânsito, seguindo o modelo de Santiago do Chile [semelhante ao “Sem Parar”, em que um chip é instalado no interior do veículo, e sem que o motorista precise reduzir a velocidade, uma câmera registra a placa do carro. Em períodos de tráfego intenso, os condutores pagam mais caro pelas tarifas].
Trânsito caótico
Enquanto as soluções não chegam, o usuário da Anchieta vê aumentar o tempo de permanência na pista. É o caso da dentista Renata da Silva, 30, que mora no Jardim Nazareth, em São Bernardo, e trabalha no Sacomã, em São Paulo. “Obrigatoriamente tenho que pegar a Anchieta, não tenho muitas alternativas”, falou.
Mesmo com os 40 minutos em média que fica parada no trânsito por dia, Renata não acha viável procurar caminhos alternativos. “Trânsito tem em todos os lugares. Se eu for ficar desviando até achar alguma rua mais tranquila, vou acabar levando mais tempo. Por isso prefiro ficar parada no trânsito”, contou Renata.
Para a dentista, a solução para aliviar o trânsito da rodovia é investir no transporte público. “Se tivesse um ônibus de qualidade, perto da minha casa, e que me deixasse próximo ao trabalho, eu deixaria meu carro em casa. Mas, infelizmente, isso parece uma utopia.”
Mas há motoristas que preferem passar por caminhos mais longos, do que enfrentar o trânsito da Anchieta. Há sete anos, o comerciante Marcos Lins, 56, mudou sua rotina. Ele tem uma loja no Rudge Ramos há 38 anos. Antes, Lins, que mora no bairro Cooperativa, utilizava a rodovia para chegar ao trabalho.
“Prefiro pegar a avenida Kennedy e seguir pela avenida Vergueiro, que é um caminho bem mais longo, do que enfrentar o congestionamento da rodovia”, disse.
Lins não acha que a implantação de pedágio reduziria o congestionamento. “A maioria das pessoas que vão trabalhar com carro tem os custos cobertos pelas empresas. Acredito que o valor do pedágio seria apenas mais um item na conta. Eu já perdi as esperanças.”
Velocidade reduzida
Desde 1º de abril de 2008, a via Anchieta sofreu alterações no limite de velocidade máxima em suas pistas no trecho urbano, principalmente. De 110 km/h, passou para 90 km/h. Em alguns trechos, caiu para 70 km/h.
A redução foi feita a partir de um estudo realizado pela Artesp (Agência Reguladora dos Transportes do Estado de São Paulo) e pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagens), que constatou um maior número de acidentes nas 16 entradas e saídas para os bairros na pista sul e outras 13 na pista norte.
Mesmo com a sobrecarga de veículos na via, a Ecovias ressaltou que, com a medida, o número de acidentes diminuiu. De acordo com a concessionária, de janeiro a fevereiro de 2012 ocorreram 192 acidentes, enquanto que, no mesmo período do ano passado, o número chegou a 248, significando uma redução de 22%.
Ainda segundo dados divulgados pela Ecovias, entre a data em que foi definida a redução de velocidade e o dia 31 de março de 2009, foram registrados 562 acidentes nas pistas marginais da rodovia, enquanto em um mesmo período anterior foram registrados 832 acidentes. Além disso, após a medida, o número de feridos nos acidentes na via diminuiu 55,9%, enquanto o de mortos caiu 55,5%.
O engenheiro de trânsito Creso de Franco Peixoto disse que a concessionária agiu de forma correta. Para ele, se fosse mantida a velocidade anterior, haveria uma forte zona de desaceleração nas proximidades dos acessos, o que poderia diminuir a segurança dos condutores.
Peixoto também ressaltou que as saídas para os bairros por meio da Anchieta contribuem diretamente para o trânsito da região, já que há um grande número de motoristas que precisam usar obrigatoriamente a via.
“Mesmo com a diminuição dos acidentes, o excesso de velocidade em trechos sem radar, o consumo de álcool e o mau uso das motocicletas em corredores ainda são os principais fatores que resultam em mortes e feridos na via Anchieta”, afirmou o engenheiro.
http://noticias.uol.com.br/cotidian...ransforma-em-grande-avenida-congestionada.htm