A Tupy S.A., de Joinville, uma das maiores fundições do mundo, anunciou ontem que vai investir R$ 385 milhões em modernização até 2011, a partir deste ano. O aumento na produção será de 70 mil toneladas acrescidos às atuais 300 toneladas de blocos e cabeçotes. Contando com a planta de Mauá (SP) o volume atingirá as 400 mil toneladas em três anos. As vendas de blocos e cabeçotes representam cerca de 65% da receita da companhia.
A maior parte dos recursos (R$ 175 milhões) será aplicada na instalação de novas linhas de fundição, direcionadas a este segmento e de outras peças automotivas. Outros R$ 150 milhões vão para modernização de máquinas e substituição de equipamentos e R$ 30 milhões na melhoria da eficiência operacional. Mais R$ 30 milhões estão reservados para a aquisição de equipamentos de proteção ao meio ambiente.
O presidente da empresa, Luiz Tarquínio Sardinha Ferro, afirma que, embora a General Motors esteja prestes a instalar uma nova fábrica na região, os investimentos não estão ocorrendo em função deste projeto.
Segundo ele, no ano passado a Tupy encerrou o processo de reestruturação e passa agora por um "ciclo natural de modernização". Implantou um novo modelo de gestão e estabeleceu diretrizes estratégicas para posicionar-se como o maior competidor mundial no segmento de blocos e cabeçotes de motor. O executivo diz, no entanto, que a Tupy, que já é fornecedora da GM no Brasil e nos Estados Unidos, terá vantagem competitiva, em função da proximidade com a montadora.
Demanda aquecida
Segundo o presidente, o tamanho da capacidade instalada depende da demanda que está aquecida, no mercado interno e externo. Ele diz que nos Estados Unidos houve queda de vendas nos veículos de passeio, mas a retração não foi observada nos veículos comerciais. "O mercado europeu também é crescente e olhamos com bons olhos este início de ano", afirma.
Em 2006, a empresa obteve receita operacional líquida (ROL) de R$ 1,61 bilhão, 3,8% menor do que a registrada no exercício anterior. O balanço de 2007 ainda não foi divulgado. Até setembro do ano passado, a receita líquida da Tupy foi de R$ 1,2 bilhão, 2,2% menor do que no mesmo período de 2006.As exportações representaram 58% das vendas em 2007, o equivalente a um volume de 274 mil toneladas.
Apesar da desvalorização do dólar, a Tupy não pode simplesmente redirecionar a produção para o mercado interno. Segundo Tarquínio, enquanto o mercado de veículos automotores era de 2,7 milhões em 2007 no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa foi de 15 milhões a 16 milhões. "O desenvolvimento de um bloco de motor ou cabeçote leva bastante tempo, custa muito caro e as empresas têm um ou dois fornecedores. Nossas peças são desenvolvidas para aplicações específicas e o ciclo de um motor leva de 10 a 15 anos", explica.
Importação difícil
As principais matérias-primas utilizadas pela Tupy são ferro gusa e sucata de aço, que estão com as cotações em alta. Embora adquiridas no Brasil, seus preços são determinados pelo mercado internacional e não compensam a desvalorização do dólar. "Muitos itens são difíceis de importar. A sucata de aço é um resíduo de uma operação industrial, não tem geometria uniforme e acomodá-lo dentro de um navio é uma tarefa complexa", diz Tarquínio.
O problema cambial aliado ao encarecimento das matérias-primas forçaram o aumento da eficiência, de agregação de valor e de preços nestes últimos anos. A maior parte dos produtos comercializados pela Tupy são de produtos semi-acabados, blocos que vão passar pelo processo de usinagem. Parte dos investimentos previstos é dedicada à instalação de equipamentos de usinagem, mas que não vão realizar a usinagem completa.
A Tupy emprega 7.500 pessoas em Joinville e Mauá. A mão-de-obra utilizada pela companhia é altamente especializada e formada pela antiga Escola Técnica Tupy, que foi criada pela empresa e hoje é integrante da Sociedade Educacional de Joinville (Sociesc). A Sociesc oferece o curso superior de Engenharia de Fundição, um dos únicos do mundo, sendo que vários engenheiros da Tupy são os professores.
Empréstimos
Luiz Tarquínio afirma que a Tupy está negociando financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os investimentos. Junto com a Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), o BNDESpar é o principal acionista da companhia, com 36,7% de participação cada um. "Estamos cogitando uma parceria e analisando o rating da Tupy", diz o presidente.
No ano passado, os dois acionistas controladores (Previ e BNDESpar) converteram debêntures que detinham em ações da companhia. A operação refletiu no patrimônio líquido, que subiu de R$ 303 milhões para R$ 609 milhões, e permitiu que a dívida líquida fosse reduzida.
Setenta anos de existência
O presidente Luiz Tarquínio celebrou ontem os 70 anos da Tupy comemorados este mês com os presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, da Previ, Sérgio Rosa, e com o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira. A marca chega num momento em que a empresa mostra extrema vitalidade.
Fonte: Gazeta Mercantil