Porto - Casa da Música
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Arquitecto holandês esteve ontem no Porto para mostrar a sua obra à imprensa estrangeira. Koolhaas aproveitou para dizer que o edifício BPN não é um assunto encerrado
Luís Octávio Costa
"Espero que a sombra seja transparente". Utópico, Rem Koolhaas terminou com esta frase a apresentação da sua Casa da Música à comitiva de jornalistas estrangeiros que durante o dia de ontem (hoje repete-se a dose) tiveram a oportunidade de percorrer os corredores, galerias e auditórios da obra portuense. Depois da visita guiada, o arquitecto holandês abriu um pouco mais o jogo, dando a entender que a abertura do janelão no edifício-sede do Banco Português de Negócios poderá não ser um assunto encerrado: "Sempre soubemos que esse prédio iria existir, não é nenhuma surpresa. Mas ainda estamos a negociar. Estou optimista".
Koolhaas, que sempre defendeu a abertura do janelão de forma a conservar a vista panorâmica, preferiu não se alongar no assunto, conservando o terreno das traseiras - propriedade da promotora imobiliária Adicais, que dá por encerradas as negociações - como mais um dos segredos que a Casa da Música esconde; os mesmos segredos que foram sendo desvendados perante os maravilhados jornalistas estrangeiros, cerca de quatro dezenas, entre representantes da revista New Yorker e dos diários Le Monde, The New York Times, The Times ou The Independent, convidados pelo atelier do arquitecto, a OMS.
"Faz-me lembrar a Biblioteca Central de Seattle, parecida, mas diferente", resumiu ao PÚBLICO Jörg Hantzschel, do alemão Süddeutsche Zeitung. Mas "sem momentos aborrecidos". Na opinião de Beatriz Gomez, da revista espanhola Arquitectura Nova, a impressão exterior "pode não ser consensual", mas o interior não engana: "É genial. São muitos estilos juntos e nada estridentes. A Casa da Música é uma peça singular que irá funcionar como um íman de pessoas". Gomez adiantou que "só uma catástrofe" prejudicaria a "estranha harmonia" da obra de Koolhaas com a zona envolvente: "A Casa da Música não gostaria de ter a seu lado um grande edifício com muito dinheiro, não precisa de mais peças singulares. A ideia mete medo".
O pormenor não chegou a ensombrar a visita guiada, que começou no grande auditório com a apresentação do projecto que inicialmente seria uma habitação para um holandês (a casa foi alargada cinco vezes), do seu ideal acústico, e até da sua evolução política ("Foi muito instável, mas a conclusão é positiva", notou Koolhaas). No auditório principal, Koolhaas mostrou a concha acústica, explicou as três camadas das cortinas, gracejou com os órgãos falsos, testou o conforto das cadeiras. E fez votos para que a luz natural do compartimento nobre da Casa da Música se mantenha intocável.
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